Notório crítico do modelo capitalista vigente, o pintor de rua Banksy, conhecido como o “artista sem rosto” tem suas obras estampando muros por toda Londres. Mesmo com sua origem, nome e profissão escondidas do público, seu trabalho poderoso impacta gerações além das fronteiras europeias e levanta a discussão sobre a também invisível mão do mercado. Com o mundo alterado por uma pandemia em curso e que já ceifou a vida de quase 4 milhões de pessoas, colocar luz no capitalismo ganhou contornos de urgência e para isso economistas, empresários e políticos se propuseram a estar à frente desta mudança que envolve, em suma, colocar o capital humano à frente do financeiro.

Não são poucos os exemplos de gigantes que estão dispostas a abrir o diálogo sobre o capitalismo contemporâneo. Apple, Amazon, E-Bay , Facebook, Pepsi, Tesla e Wal-Mart são alguns dos exemplos de conglomerados dispostos a repensar o capitalismo. Para condensar este pensamento os economistas Michael Jacobs e Mariana Mazzucato escreveram o Rethinking Capitalism. Estudo profundo sobre os avanços que o modelo econômico trouxe para a sociedade e o custo deste crescimento. “O desempenho do capitalismo ocidental nas últimas décadas tem sido profundamente problemático em relação à desigualdade e aos danos ambientais”. Prova disso são números da Oxfam. Segundo a entidade, ano passado, as 2,1 milpessoas mais ricas do mundo concentravam a riqueza de 60% da população mundial. Na década de 1980, a proporção era de 45%.

E essa não é uma discussão comunista. Prova disso é que um dos principais defensores da revisão do capitalismo é Paul Tudor Jones, um bilionário norte-americano e gestor de um dos maiores fundos de hedge do mundo. Segundo ele, a sociedade americana precisa entender que existe um problema na forma como o capitalismo evoluiu. “É como uma pessoa que tem problemas com drogas. Primeiro precisa aceitar que algo não está bem”, disse ele, no TED Talk Califórnia. Dias depois, em suas redes sociais, afirmou que o problema era a ideia de que o lucro precisa ser imediato. Christina Garlin, economista e pesquisadora do centro norte-americano de desenvolvimento econômico, caminha na mesma direção. “O uso desenfreado de combustível fóssil e o desmatamento da Europa são a prova disso”, disse à DINHEIRO.

FUTURO Mas nem tudo está perdido. Segundo Mazzucato, há soluções viáveis para uma recondução do capitalismo sem tirar dele a essência. E aí entram as grandes companhias e a sociedade civil. Antes da pandemia havia uma ebulição social eclodindo protestos América, África, Ásia e Europa e apesar de figurar em espectros políticos distintos, todos pediam, na essência, a mesma coisa. A revisão de como o mercado trata o indivíduo. Seja na busca por direitos, empregos, ou demandas políticas, o centro da discussão era o liberalismo econômico de abastecimento desenhado na pós-segunda guerra com a criação da Sociedade Mont Pèlerin.

O problema deste modelo que permitiu ao mundo um crescimento após a segunda guerra mundial é que ele só visa o acúmulo. Para Paul Tudor Jones a prova disso está nos Estados Unidos. Desde 1980 a classe mais pobre norte-americana tem o mesmo poder de compra, enquanto os ultraricos elevaram em 6%, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (Pnud). E esse dado é que o preocupa as empresas. Para que haja lucro no futuro, todos precisam ter mais dinheiro.

Nesse sentido, Jonathan Porritt, autor de Capitalism As If The World Matters, defende a construção de “cinco capitais” essenciais para um capitalismo mais inclusivo. São eles o Natural, Humano, Social, Manufaturado e Financeiro e todos cabem nos modelos atuais. Com isso, ações que levem à maior satisfação dos trabalhadores, melhores condições de emprego e compensação ambiental já estariam em práticas em ao menos 180 empresas dispostas a repensar o capitalismo. Com o lucro em jogo, elas sabem qual capital precisa valer mais. Em um de seus paineis, Banksy escreveu que “A arte deve confortar os perturbados e perturbar os confortáveis”, trocando arte por capital, fica claro os rumos que o capitalismo pode tomar nos próximos anos.