Na terça-feira 30, enquanto discursava sobre o Estado da Nação perante o Congresso americano, Donald Trump comemorou os bons números da economia americana no ano passado. Celebrou a criação de 2,11 milhões de postos de trabalho, o índice de desemprego de 4,1%, o menor desde o ano 2000, e a alta de 2,6% nos salários. Trump vendeu o resultado como uma vitória pessoal, mas a principal responsável pelo feito está prestes a perder o próprio emprego. Na quarta-feira 31, Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) presidiu sua última reunião do equivalente americano do Copom e, como esperado, manteve os juros inalterados. No dia 5 de fevereiro ela deverá transmitir o cargo para Jay Powell, outro dos membros da diretoria do Fed.

Em um mundo mais justo, Yellen deveria, como Ben Bernanke antes dela, e a maioria de seus antecessores – todos homens –, ter sido reconduzida a um segundo mandato de quatro anos. No entanto, Trump preferiu indicar Powell, ligado ao partido republicano. Yellen, democrata de carteirinha, havia sido indicada por Barack Obama. Seus quatro anos à frente do Fed foram exemplares. Com uma sólida carreira acadêmica, a Ph.D em economia por Yale, e primeira mulher a presidir o mais poderoso dos bancos centrais, se destacou por uma comunicação clara com o mercado e com os políticos, inclusive republicanos. Ela conseguiu retirar os estímulos à economia e elevar os juros americanos pela primeira vez em 11 anos sem provocar nenhum tsunami no mercado mundial.

Durante seu mandato, o índice americano Nasdaq subiu 97% e os mercados acionários de países emergentes subiram 80% em média. “O mais importante nesse processo de retirada dos estímulos foi a comunicação clara com que Yellen conduziu o processo”, diz Rodrigo Borges, diretor de renda fixa da Franklin Templeton. Não por acaso, sua despedida recebeu um afago virtual em uma campanha no Twitter, algo raro em se tratando de banqueiros centrais. Sob a hashtag #PopYourCollar (levante a gola, em tradução livre), internautas de todo o mundo postam fotos levantando o colarinho, mostrando seu apoio à economista. Até mesmo quem lhe tirou o cargo rasgou elogios. “Yellen é uma grande mulher, que fez um trabalho maravilhoso”, disse Trump, durante o anúncio da indicação de Powell. Cabe a pergunta, então: por que não outros quatro anos?