Uma novela com um desfecho improvável. Esse é o resumo das negociações que levaram à formação de um novo governo italiano com um acordo entre o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, e o Movimento Cinco Estrelas, que se classifica como anti-establishment. A nova liderança começa com a manutenção do atual primeiro-ministro Giuseppe Conte, mas com uma base de poder bem diferente. O acordo é uma derrota para Matteo Salvini e seu partido, a Liga, de extrema-direita, que no início do mês rompeu a aliança governamental que mantinha com o Cinco Estrelas, na esperança de que o país decretasse novas eleições. “Salvini superestimou seu poder”, diz Vinicius Vieira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De qualquer forma, é uma bela notícia para os líderes da União Europeia. O governo da Liga era anti-europeu e promovia um afrouxamento das metas fiscais acertadas anteriormente.

A Itália faz parte do grupo de países europeus que teve problemas financeiros no início da década, os chamados PIIGS: Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha. Em comum, grandes déficits com gastos governamentais muito superiores às receitas. Mas ao contrário da Grécia, um eventual calote da Itália não seria apenas uma dor de cabeça, e uma bomba nuclear. A dívida italiana está nos 2,3 trilhões de euros. É mais do que os 2 trilhões de euros da dívida da Alemanha, mas com uma economia com metade do tamanho. As pendências chegam a 131% do PIB, a segunda maior da zona do euro, à frente apenas dos 176% da Grécia. O risco de uma quebra é real.

No caso da Grécia, as autoridades financeiras mundiais montaram programas de resgate de quase 300 bilhões de euros. Um calote italiano seria bem pior, pois sua economia é quase dez vezes maior que a grega. De quebra, entre os principais credores da Itália estão bancos franceses e alemães — o que arrastaria a crise para outros países. Haja prece para que tudo termine em pizza.