A era de Fernando Henrique Cardoso pode ser vista e analisada pelos mais variados ângulos. Depois de ocupar por oito anos o Palácio do Planalto, é possível que FHC seja lembrado por seu perfil de estadista, construído também graças à projeção no exterior e à desenvoltura em encontros com chefes de Estado e em assembléias de grandes organismos internacionais. O sociólogo que brilhou na economia e escreveu seu nome na política poderia também entregar como herança o estilo conciliatório e democrático que imprimiu ao relacionamento com aliados e adversários, utilizando o bom humor como uma ferramenta para criar uma nova maneira de fazer política ? assim como JK usou o imenso sorriso para sintetizar o sentimento de uma época.

Mas, justiça seja feita, FHC passará para a história como arquiteto da estabilidade monetária. A criação e a consolidação do Real é certamente o maior legado que um governante poderia deixar em um País massacrado por índices de inflação indecentes, que corroíam o poder de compra e a auto-estima de uma nação inteira. Pode-se falar de todas as fragilidades do reinado de Fernando Henrique, a exemplo da política econômica oscilante, da dívida pública sufocante, do desemprego renitente. Todas essas facetas, e outras mais, estão retratadas neste especial A Era FHC, um extenso apanhado do mais longo mandato democrático da história brasileira. Mas nenhuma delas poderá sair da lista de grandes problemas brasileiros se o caminho para sua solução não tivesse sido pavimentado pela dura e vitoriosa conquista da estabilidade.