Combustível caro, frete baixo, calotes, ociosidade, roubos e assaltos. Esses são apenas alguns dos desafios enfrentados diariamente pelos caminhoneiros que cruzam o território brasileiro. Em 2019, eram ao menos 2 milhões, segundo dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). E o grupo Frete.com diz ter encontrado a resposta para eliminar a ineficiência do transporte de cargas na América Latina. Como? A digitalização dos processos. A plataforma faz a ligação direta entre motoristas e empresas por meio do aplicativo. Assim, reduz o tempo que o caminhão roda vazio consumindo combustível, além de diminuir os calotes e os roubos de veículos e de cargas, ao monitorar as rotas. “A ideia é ajudar as empresas a aumentar a segurança e a produtividade na contratação de caminhoneiros e reduzir os custos diretos e indiretos do transporte”, afirmou à DINHEIRO Federico Vega, presidente do Frete.com. “A ineficiência no setor significa capacidade ociosa dos caminhões, falta de segurança e burocracia.”

O grupo Frete.com é formado por três empresas: FreteBras, plataforma de fretes da América Latina que conecta digitalmente transportadores e caminhões; FretePago, fintech focada em pagamento e recebimento de fretes, por meio de uma conta digital; e a CargoX, que atua de forma independente das demais operações e oferece pacotes de serviços para as transportadoras, como emissão de documentação, seguro de carga e auxílio às empresas no processo de digitalização da operação de seus fretes.

A logtech ganhou musculatura, após aporte de R$ 1,14 bilhão, liderado pelo Softbank e pelo Tencent, e status de unicórnio, avaliada em mais de R$ 5,6 bilhões (US$ 1 bilhão). Para o presidente, é possível reduzir a ineficiência da relação entre as transportadoras e os caminhoneiros, por meio da digitalização. “Antigamente os caminhoneiros saíam rodando por empresas atrás de fretes. Com isso, rodavam com 40% a 60% de sua capacidade ociosa, o que gerava impactos financeiros nos motoristas e ambientais no transporte de carga”, afirmou Vega. “Agora podem escolher a carga a transportar pelo celular. Sem perder tempo e gastar combustível, além de outros riscos.”

ECONOMIA A melhor eficiência do setor no Brasil tem gerado impactos ambientais importantes. Sem a necessidade de os caminhões ficarem rodando pelas avenidas em busca de cargas, foi constatada redução anual de 20 milhões de toneladas de CO2 emitidos na atmosfera, o dobro do liberado pelo Panamá e quatro vezes o volume dispersado pelo Uruguai. O Brasil é o terceiro maior mercado de transporte rodoviário de cargas do mundo, com movimento anual de R$ 360 bilhões. De acordo com Vega, tornar a capacidade ociosa mais acessível gera uma economia de até 25% nos custos do transporte. “E os caminhoneiros incrementam o seu lucro em até 50% ao acessar a plataforma e negociar os fretes com mais eficiência.”

DE OLHO NA REGIÃO O argentino Federico Vega diz que haverá expansão dos negócios para outros países da América Latina a partir de 2022. Mercados ainda serão definidos. (Crédito:Claudio Gatti )

A plataforma se mostra uma importante aliada, segundo o executivo, diante do “aumento agressivo dos custos” nos últimos meses. Com o aumento constante do valor dos combustíveis e a alta da inflação, os profissionais têm visto as margens ficarem cada vez mais reduzidas. “Um caminhoneiro fatura em média R$ 20 mil por mês. Desse total, 60% são consumidos com combustíveis e até 15% com pedágios, além de outros custos. Ele coloca no bolso cerca de R$ 4 mil”, disse Vega, ao destacar que o valor do frete não sobe proporcionalmente ao dos combustíveis e à inflação. “Já há um movimento de aumento no frete, muito baseado na lei da oferta e da demanda. Mas nada demais.”

O grupo Frete.com processa atualmente mais de R$ 100 bilhões em transações, R$ 2,5 trilhões em valor de mercadorias transportadas e prevê crescimento de 90% este ano. A ideia é se tornar a maior financiadora do setor, inicialmente com crédito pessoal aos caminhoneiros (foram liberados R$ 300 milhões em 2020) e em futuro não tão distante com auxílio financeiro para a troca do caminhão. São 615 mil caminhões cadastrados e ativos, além de 80 mil usuários que publicam cargas mensalmente. “Temos buscado atrair um número maior de empresas para que anunciem as cargas.”

Os aplicativos do grupo somam mais de 2 milhões de downloads e mensalmente são realizados 1,7 milhão de transportes, cobrindo 5 mil municípios no País. “Atendemos mais de 90% das cidades brasileiras. E transportamos todos os tipos de cargas.” O próximo passo do Frete.com será a expansão do serviço para a América Latina, movimento que deve ser iniciado já em 2022. Os países não estão definidos, apesar de Argentina, Paraguai e Uruguai serem o destino de muitos caminhões brasileiros, por causa do forte comércio entre as nações.

O maior desafio do grupo é ampliar os cuidados na plataforma para reduzir casos de roubos de cargas e golpes (calotes e roubo de caminhões) contra os motoristas em comparação com o mercado off-line. “Houve redução de 25% em roubos de cargas e de 43% nos golpes”, disse Vega. O que mostra que, no setor de transporte de cargas brasileiro, há uma longa estrada a ser percorrida.