O que têm em comum a forte alta da Bovespa nas últimas 48 horas e a euforia gerada pelo governo Macri, na Argentina? A esperança de que o futuro será melhor do que o presente. É o chamado “jogo das expectativas”, que pode ser resumido de uma forma bem simples. Se o consumidor acha que não vai perder o emprego, ele se arriscar a consumir. Se o empresário acredita que vai vender o produto, ele decide produzir. Se o investidor prevê que essa operação vai dar lucro, ele compra a ação dessa empresa. 

Na Argentina, a desconstrução do populismo econômico, protagonizada pelo presidente Mauricio Macri, está atraindo investimentos financeiros e no setor produtivo. E olha que o ano ainda será muito ruim, com encolhimento do PIB em torno de 2% e inflação nas alturas, acima de 20%.

No caso do Brasil, essa perspectiva positiva decorre da sensação de que, apesar do momento econômico trágico, algo de novo (melhor, é claro) está por vir no mundo política, com ou sem Dilma Rousseff na Presidência. Com ou sem impeachment. Com ou sem Lula em 2018. É quase como um efeito Tiririca: pior do que está não fica. 

Na quinta-feira 3, a reportagem exclusiva da ISTOÉ sobre a delação premiada do senador petista Delcídio do Amaral, que envolve Dilma e Lula, foi o primeiro gatilho para a reação eufórica do mercado financeiro, com bolsa em alta e dólar em queda. No dia seguinte, o mandato de condução coercitiva do ex-presidente Lula, executado pela Polícia Federal (PF), colocou a cereja no bolo dos investidores, que novamente foram às compras de ativos, que estavam baratos. Sim, conforme havia dito o empresário Abilio Diniz, em novembro do ano passado, “o Brasil está em liquidação”. 

Nenhum economista, nem mesmo alguns alienados que orbitam Brasília, acredita numa virada econômica em 2016. Nem aqui, nem na Argentina. No quintal de Macri, no entanto, a recuperação já está contratada para os próximos anos. Na segunda-feira 29, inclusive, foi firmado um acordo histórico com os credores internacionais que haviam sido tungados pela ex-presidente Cristina Kirchner. 

Aqui, no Brasil, a retomada do crescimento não tem data para acontecer. Pode ser em 2017, em 2018 ou apenas depois das eleições. Mas uma coisa é certa: toda vez que o mercado receber notícias que apontem para a possibilidade de o mandato da presidente Dilma encerrar antes de 31 de dezembro de 2018, a Bovespa vai subir e o dólar vai cair. O mesmo vale para informações que afastem Lula da próxima eleição, em 2018.

Não é segredo para ninguém que os investidores preferem o PT fora de Brasília. Basta relembrar o que aconteceu nas eleições de 2014, conforme as pesquisas eleitorais eram divulgadas. E se Dilma não sair? Nesse caso, a perspectiva de melhora passar a ser mais um exercício de fé do que uma previsão econômica. Como o cenário está muito ruim, o tal efeito Tiririca entra em ação. Depois de tantos acontecimentos, a semana termina, ao menos com um fio de esperança.