Pela primeira vez em muito tempo, a corrida eleitoral pelo governo paulista tem um representante do setor empresarial. Paulo Skaf, filho de industriais do ramo têxtil e atual presidente licenciado da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disputa pelo socialista PSB o Palácio dos Bandeirantes com o ex-governador tucano Geraldo Alckmin, um médico anestesista de formação, e o senador petista Aloizio Mercadante.
 

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Paulo Skaf em convenção do PSB EM São Paulo, no domingo 27
 

Skaf chega com uma campanha robusta, estimada em R$ 35 milhões, e propostas ousadas. Entre elas, a devolução de parte das tarifas de pedágio no IPVA e a cobrança de mensalidades para os alunos das universidades públicas – um tema tabu, que nunca foi discutido abertamente por nenhum candidato. Skaf enxerga sua proposta até pelo ângulo socialista. “O Estado paga caro para formar filhos da elite, que, quando diplomados, não atendem os mais pobres”, disse ele à DINHEIRO.

As incursões de empresários no campo da política não são novidade. Algumas são bem-sucedidas. Outras, nem tanto (leia quadro abaixo). Skaf acredita que, com suas propostas, garantirá um lugar no primeiro grupo. Se vencer, terá na política o maior cargo de sua carreira empresarial: a de administrar o Estado mais rico do País, responsável por 40% da produção industrial brasileira e com orçamento anual de R$ 150 bilhões, cerca de R$ 30 bilhões a mais do que o da Argentina. “Não podemos ser um gigante nos números, com serviços de Terceiro Mundo”, destaca o candidato, que defende um choque de eficiência no serviço público, que abriria espaço para maiores desonerações fiscais no Estado. 
 

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Greve na USP: ela tem verba de R$ 3 bilhões, mas parou dois anos nos últimos 17
 

A proposta de alterar o modelo paulista das universidade públicas também nasceu sob a ótica fiscal. Instituições como USP, Unesp e Unicamp, que são as três maiores do País em orçamento e número de alunos, são mantidas com recursos do Estado de São Paulo – e também um negócio de ouro. Juntas, elas consomem 9,57% do ICMS arrecadado pelo Estado e recebem dos cofres públicos pouco mais de R$ 5,7 bilhões por ano, o equivalente ao custo de construção do trecho sul do Rodoanel, a maior obra viária do País e a mais cara do PAC.

O problema é que 87% dos estudantes (cada aluno pode custar até R$ 300 mil aos cofres estaduais) vieram de escolas particulares. “Cobrar de quem pode pagar é uma questão de justiça social, que permitiria abrir vagas para os mais carentes”, diz Skaf. “A cobrança de mensalidades evidentemente não soluciona os inúmeros problemas do sistema de ensino público, mas se mostra uma alternativa viável para a questão social”, garante Joaquim Carlos Racy, cientista político da Brazilian Business School (BBS).

“Essa bandeira é polêmica, mas pode render dividendos nestas eleições”, completa o professor. Neste ano, a USP – que nos últimos 17 anos passou dois em greve – receberá R$ 3 bilhões do governo estadual, acima do R$ 1,4 bilhão da Unesp e do R$ 1,3 bilhão da Unicamp.

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Em paralelo às propostas para a educação, e para desfazer os argumentos de falta de experiência política em relação aos rivais Alckmin e Mercadante, Paulo Skaf apoiará sua campanha ao governo de São Paulo em recentes conquistas lideradas por ele.

Uma delas – talvez a maior de todas – foi a extinção do imposto do cheque, a CPMF, num episódio que se configurou como a principal derrota parlamentar do governo Lula. Foi Skaf quem coordenou várias manifestações contra a CPMF e também quem levou a vários senadores abaixo-assinados para que o imposto fosse extinto.

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Outro pilar da campanha, que também pode atrair eleitores, se chama pedágio. O alto preço das tarifas para circular nas rodovias paulistas, que nesta semana foram novamente reajustadas, está entre suas prioridades. Skaf propõe abatimento de 100% do valor das 0h às 7h e redução de 50% entre 7h e 24h. A devolução da tarifa de pedágio seria limitada a 50% do valor pago em IPVA, o imposto sobre veículos, nos moldes do sistema que já funciona com a nota fiscal paulista.

De volta ao ponto mais polêmico, o das universidades estaduais, a cobrança de mensalidade, que até faz sentido sob a leitura da gestão pública, é um dedo na ferida no campo acadêmico. O argumento de que a taxação serviria para ampliar o acesso dos mais pobres à cota de vagas gratuitas não convence, por exemplo, o senador Cristovam Burque, ex-ministro da educação no início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Embora essa ideia já tenha sido defendida no passado, também por economistas como Pedro Malan, Gustavo Franco e Armínio Fraga, o senador afirma que a definição de cotas para ricos e pobres nas universidades públicas paulistas não é uma solução viável.

“Não resolveria nada a cobrança porque os melhores estudantes iriam se graduar no Exterior ou buscariam instituições privadas”, afirma o senador à DINHEIRO. “O candidato está rotulando o ensino superior gratuito como um instrumento de promoção pessoal, não um benefício social, como de fato é”, reforça o senador.

A estratégia de Skaf para mudar a sina dos empresários na política é ousada e arriscada, mas não está sozinho nesse caminhada. Ele contratou um dos marqueteiros mais experientes do País na política, o publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha do presidente Lula em 2002, para moldar sua imagem diante dos eleitores paulistas. Se conseguir, Skaf derrubará o tabu de que grandes empresários raramente têm sucesso na política.

 

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“O Estado financia ricos que não atendem os pobres”

 

Entrevista: Paulo Skaf
DINHEIRO – Cobrar mensalidade na USP, Unesp e Unicamp é algo viável?
SKAF –
 Estou provocando o debate para um problema sério. Um curso de medicina, por exemplo, custa ao Estado cerca de R$ 50 mil por ano, ou R$ 300 mil durante toda a graduação. Daí o estudante conclui os estudos, abre seu consultório e passa a cobrar altos preços pelas consultas. Bem perto dele, nos postos de saúde, há fila de doentes e poucos médicos para atender. Isso parece justo? Hoje, desta forma, o Estado financia ricos que não atendem os pobres.

DINHEIRO – Se a grande maioria dos estudantes das universidades públicas é de escolas particulares, isso não revela a baixa qualidade do ensino público de base?
SKAF –
 Evidentemente, sim. É por isso que proponho ensino em período integral, das 8h às 17h, na rede pública estadual. Além disso, nos três anos de ensino médio os estudantes farão aulas profissionalizantes. Sairão da escola com uma profissão.

DINHEIRO – À frente da Fiesp, o sr. liderou a campanha que derrubou a CPMF, um imposto federal. Como fica o ICMS paulista?
SKAF – 
É um absurdo tributar alimentos da cesta básica. Precisamos reduzir drasticamente as alíquotas de itens de básicos e rever o ICMS de dezenas de produtos. Vamos brigar inclusive pela redução de impostos federais. Afinal, o governador de São Paulo não deve ser um chorão, que reclama de tudo e não se mexe. É eleito para resolver os problemas.