BOLSONARO. Nove letras. Nove crimes. Seria poético, se não fosse trágico. O inquilino da vez do Palácio do Planalto teve sua ficha corrida elencada no relatório final da CPI da Covid. A Comissão só começou a atuar, em abril, após determinação do STF – o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aliado de Bolsonaro, estava sentado em cima do pedido de abertura da CPI havia dois meses. Agora o texto, resultado da convocação de 59 pessoas (entre testemunhas, gente investigada e convidados), foi divulgado pelo senador Renan Calheiros na quarta-feira (20). Além do presidente, foram responsabilizados seus filhos, ministros e ex-ministros, funcionários públicos, ex-funcionários do governo, deputados e médicos. No total, 65 foram indiciados.Nas mais de 1 mil páginas do relatório, as cinco principais conclusões foram:

B Epidemia com resultado morte
O Infração de medida sanitária preventiva
L Charlatanismo
S Incitação ao crime
O Falsificação de documento particular
N Emprego irregular de verbas públicas
A Prevaricação
R Crime contra a humanidade
O Crime de responsabilidade, por violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo

O governo Bolsonaro manteve um gabinete paralelo para propagar e adotar medidas de saúde que contrariavam a ciência;

  • O governo Bolsonaro trabalhou pela chamada imunização de rebanho, que se mostrou errada e multiplicou em dezenas de milhares o número de mortes;
  • O governo Bolsonaro priorizou o tratamento precoce sem eficácia comprovada, usando da máquina pública e fake news para este fim;
  • O governo Bolsonaro boicotou, minou e atacou medidas como lockdown, distanciamento social e uso de máscaras;
  • O governo Bolsonaro deliberadamente atrasou a compra de vacinas.

OCDE
Quarenta anos no agora

Divulgação

Podia ser o nome de uma continuação do de Volta para o Futuro, poderia ser uma releitura mambembe dos 50 anos em 5 de JK, mas não é nada disso. Um relatório tenebroso da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontou que o padrão de vida do brasileiro ficará estagnado nas próximas quatro décadas. Isso porque de 2030 a 2060, deverá haver uma queda de 0,2% na fatia da população ativa no mercado de trabalho do Brasil. O potencial da taxa de ocupação no Brasil também deve cair 0,1% no mesmo período. O resultado brasileiro só não é pior que o da Índia (-0,6%) e evidencia um problema global de capacidade de geração de emprego, garantia de renda e envelhecimento da população, principalmente após a pandemia. Se estaremos no mesmo lugar em quarenta anos, só espero que a nossa saúde também seja a mesma de hoje.

FIM DE UMA ERA
Imbroglio alla italiana

Por 75 anos a Alitalia foi duas coisas. Um ícone orgulhoso. Uma bagunça administrativa. O resultado teve outro capítulo – impossível dizer que se trata do último – na quinta-feira (14) com a realização de seu último voo, o AZ 1586, entre Cagliari e Roma. “Guarde este bilhete de embarque, que será um pequeno pedaço da história italiana”, disse o comandante Andrea Gioia aos passageiros. Foi aplaudido. Sem capacidade de se tornar lucrativa, a empresa teve apenas um ano no positivo neste século e no último triênio recebeu ajuda governamental na casa dos 8 bilhões de euros. Em seu lugar nasce uma empresa menor, a Ita Transporto Aereo. O governo italiano vai aportar mais 1,3 bilhão de euros até 2024 para ver se a nova aérea decola. Ela ficará com 52 aeronaves e 2,8 mil funcionários, contra 110 aviões e 10 mil empregados da Alitalia. O número excedente de trabalhadores entre o contingente anterior e o novo receberá salários por um ano num programa de demissões ainda mal explicado. Espera-se vender uma parte da antiga companhia. Por trás do triste fim, uma conjunção de disputas políticas, pressões sindicais e má administração, sempre sob interferências do Estado. Para abrir o caixa do dinheiro público para a Ita o governo italiano precisou da bênção da União Europeia, que exigiu uma descontinuidade clara entre a Alitalia e a nova empresa, além da exigência de que se torne lucrativa até 2025.

IMIGRAÇÃO
Fim da era Trump, pero no mucho

SANDY HUFFAKER

Uma das marcas do governo Trump era a forma dura com que tratava a imigração, em especial a de latinos. Com a entrada de Biden, parte dessa política restritiva afrouxou e o resultado pôde ser visto nas fronteiras: 1,7 milhão de ilegais foram detidos deste o início do ano. A média anual, entre 2012 e 2020, era de 540 mil. O fluxo evidenciou o despreparo do novo governo. O diplomata Daniel Foote, que pediu demissão, chegou a chamar Biden de “desumano”.

GREVE
Caminhoneiros mandam avisar
A frente parlamentar dos caminhoneiros alertou o presidente Jair Bolsonaro na terça-feira (19) em um ofício que a categoria entrará em greve a partir de 1º de novembro. Por meio de um ofício, a frente parlamentar acusou a Petrobras de medidas anticompetitivas que prejudicam os caminhoneiros. Eles pedem uma nova política de precificação do combustível, além de melhoria na infraestrutura das vias. Até agora, Zé Trovão e outros agitadores do quase golpe de 6 de setembro ainda não deram as caras.

35,9%

Dos jovens brasileiros não estudam, nem trabalham, segundo dados da OCDE. Porcentual que só não é pior que na África do Sul (45%). Segundo o relatório da Organização, esse número pode piorar com os impactos da pandemia na economia brasileira.

Evandro Rodrigues