Elemento de nº 14 na tabela periódica, o carbono tem o número atômico seis, indicado que cada um de seus átomos possui seis elétrons e seis prótons. O carbono é o elemento mais versátil da natureza. Pode assumir a forma de carvão, de grafite, formar células do corpo humano e, submetido às doses corretas de temperatura e pressão, tornar-se um diamante. Pela versatilidade, o seu símbolo foi escolhido para batizar o mais novo banco digital do Brasil – C6. O projeto é encabeçado por Marcelo Kalim, que era o segundo executivo do BTG Pactual, abaixo somente de André Esteves, em conjunto com dois ex-colegas do banco: Carlos Fonseca, que foi diretor da área de private equity e Leandro Torres, antigo chefe da corretora.

O empreendimento nasceu oficialmente em março deste ano com investimento inicial de R$ 250 milhões, e ainda depende da autorização do Banco Central para começar a operar, o que deve acontecer nos próximos meses. Enquanto aguarda o aval da autoridade monetária, Kalim se dedica a recrutar talentos para liderar setores estratégicos do negócio. Um exemplo é o diretor de segurança da informação, Nelson Novaes Neto, egresso do Itaú. Já o diretor de inovação, Gustavo Torres, veio do Banco Original. Para atrair os profissionais, Kalim oferece participação no negócio. O modelo é bem conhecido do executivo. Foi adotado no banco em que trabalhava ao lado de Esteves, do qual passou a ser um dos donos em 1998, quando ambos estavam no Pactual. Hoje o C6 tem 20 sócios e 240 funcionários. “Os ativos mais valiosos do C6 sobem e descem do elevador todos os dias”, diz Antonio Hermann, ex-presidente do BMG.

Mercelo Kalim: em busca dos melhores talentos do mercado para dar vida ao seu novo projeto

Os funcionários já ocupam quatro dos oito andares da sede da instituição, que fica no bairro dos Jardins, em São Paulo. No térreo, foi acomodada uma incubadora de startups que receberá novas empresas todos os semestres. Assim, os executivos se manterão sempre próximos aos potenciais avanços a serem implementados na operação. “Podemos esperar produtos de investimento competitivos que não vão custar muito caro”, diz George Sales, professor de finanças do IBMEC.

Para entender o perfil dos futuros usuários e se comunicar da maneira mais assertiva, o banco de Kalim aposta em uma análise minuciosa das informações. Essa será a missão de Michel Pereira, que deixou o Google para liderar o departamento de dados. Além dos talentos brasileiros, o time receberá reforço de pesquisadores formados nas universidades americanas. Para isso, o banco terá um escritório em Nova York, onde serão desenvolvidas soluções de detecção de fraudes e gerenciamento de risco de crédito, entre outras frentes. Os sócios devem aportar mais R$ 250 milhões com foco na área de tecnologia.

Tradição: funcionários trabalham na sede do BTG Pactual, em São Paulo

A sociedade pode ter sido estruturada seguindo o modelo consagrado do BTG Pactual. Porém, quem conhece o negócio avalia que a estratégia não será incomodar apenas os bancões. O C6 também deverá tentar fisgar clientes que já aderiram a concorrentes com pegada digital, como Neon e Nubank, ao oferecer serviços financeiros tradicionais para pessoas físicas e empresas sem burocracia, por meio de uma interface simples. Na área corporativa, o foco de atuação será na prestação de serviços para empresas com faturamento anual a partir de R$ 100 milhões. “Existe uma carência de produtos mais sofisticados para esse segmento, como os serviços relacionados à área de câmbio”, diz Hermann.

Para aumentar o escopo de atuação, o banco comprou na semana passada, por meio da C6 Participações Societárias, a NTK, empresa provedora de tecnologia para pagamentos, que passará a se chamar PayGo. “Com essa aquisição, o C6 poderá oferecer pagamentos por celular, que devem concorrer com os cartões de plástico no médio prazo”, diz Sérgio Tavares, Diretor da STavares Consultoria Financeira. Os desafios são grandes. Os bancos digitais já se firmaram no mercado, mas a maior parte dos clientes ainda permanece fiel aos gigantes do varejo. Especialistas avaliam que, para conquistar os correntistas tradicionais, especialmente pessoas físicas, a instituição deverá ter de ensiná-los a usar todas as ferramentas à disposição. Procurado, o C6 não concedeu entrevista.