O primeiro ano de Donald Trump na Casa Branca esteve marcado por escândalos, polêmicas e uma polarização que transformou profundamente a forma como os americanos se relacionam com seu presidente.

“Bem-vindos ao estúdio”, disse Trump com um sorriso ao convidar jornalistas credenciados na Casa Branca a entrar no Salão do Gabinete para repassar seu primeiro ano como presidente dos Estados Unidos.

Desde 20 de janeiro de 2017, o mundo acompanha com paixão – e também com espanto – o notável espetáculo que significa Trump na Casa Branca.

Na realidade, mais do que qualquer iniciativa ou política, o que cativou e em alguns momentos causou asco na opinião pública do mundo é o estilo de seu desempenho.

“A retórica de Trump não parece com a de nenhum outro presidente da história moderna”, disse o professor Richard Vatz, da Universidade Towson que se especializa na comunicação dos presidentes americanos.

Para Vatz, Trump “se comunica de forma mais frequente e está menos preocupado com as consequências de sua linguagem do que qualquer outro presidente da nossa era”.

Na Casa Branca, Trump se definiu como um “gênio muito estável”, chamou de “países de merda” as nações de onde vêm muitos imigrantes que chegam aos Estados Unidos e mentiu repetidamente sobre praticamente qualquer coisa – do tamanho da multidão no dia de sua posse até as ações de seus adversários.

Muitos presidentes americanos buscaram formas de eludir a imprensa crítica, desde as conversas de Franklin Roosevelt até as entrevistas de Barack Obama com ativistas do YouTube.

Nada se compara, porém, com o uso que Trump faz, ainda como presidente, da rede social Twitter.

– Comunicação constante –

Desde que chegou à Presidência, raramente passou um dia fora das manchetes dos jornais graças às suas constantes diatribes, críticas e elogios sobre quase qualquer aspecto da vida pública.

Frases e expressões típicas de sua retórica – como “andam dizendo que…” – já fazem parte da fala cotidiana de muitos americanos.

Acima de tudo, seus seguidores admiram a brutalidade de seu estilo direto e assertivo, enquanto seus opositores sofrem espasmos de raiva com a imoralidade, real ou percebida, de cada um de seus comentários.

Homem típico do mundo do espetáculo, em geral discute sua audiência e a cobertura da imprensa mais do que qualquer outro assunto.

Para Aaron David Miller, ex-negociador para o Oriente Médio, um dos problemas centrais é que existe uma brecha entre as palavras do presidente e a realidade tal como é vista pelo restante do mundo.

“A pergunta fundamental para nossos aliados e adversários é: quão confiável e verossímil é o presidente? Realmente pensa no que diz e diz o que pensa?”, assinalou Miller.

Como presidente, já publicou cerca de 180 vezes sobre o que considera “notícias falsas” e em outras 170 oportunidades a favor da emissora FoxNews, a única que lhe faz diariamente emocionados e entusiasmados elogios.

Aos 71 anos, em alguns momentos parece mais confortável representando na televisão o papel de presidente do que efetivamente agindo como tal.

E, enquanto a maioria dos que aspiram à Presidência busca inicialmente se dirigir a sua base e depois tenta aumentar sua legião de seguidores, Trump se mantém fiel a sua base original, sem – aparentemente – se importar com como suas declarações são percebidas por aqueles que estão distantes de seu grupo de apoio.

– Convicções questionadas –

Segundo a Casa Branca, o último ano foi um festival intenso de grandes conquistas legislativas e registrou um crescimento sem pausa nos mercados financeiros, com recordes em Wall Street após a aprovação de uma reforma de impostos favorável às empresas.

No entanto, este primeiro ano de Trump questiona duas velhas convicções que permitiram sua chegada à Casa Branca: que os empresários são mais competentes do que os burocratas e que os políticos agem apenas em função do autointeresse.

Nesse cenário, a Casa Branca se mostrou boa parte do último ano como um ninho de cobras, no qual os “globalistas” vazavam para a imprensa informações comprometedoras para os “populistas” e vice-versa. E ambos os grupos atuando contra o presidente.

A chegada do general John Kelly como chefe de Gabinete e a saída do polêmico chefe de Estratégia Steve Bannon parecem ter colocado um ponto final na constante guerra interna.

Mas a desordem continua, com assessores que aparecem meses depois de terem sido demitidos e com novas demissões a cada semana.

Assim, os constantes questionamentos sobre a conduta de Trump não ressoam no vazio. Uma recente pesquisa do instituto Quinnipiac mostrou que 69% dos eleitores consideram que Trump não é muito equilibrado, e 57% acreditam que não está preparado para ser presidente.

Controlado pelo Partido Republicano, o Congresso garantiu até agora limitar as consequências políticas desse cenário, o que permitiu ao presidente continuar com seu estilo desafiador.

“Se nega a pedir desculpas e recorre a seu estilo brusco sem justificativas”, comentou Vatz.

Isso poderia mudar se o procurador especial Robert Mueller, que investiga um suposto conluio da campanha de Trump com a Rússia para afetar as eleições, encontrar evidências de que o presidente obstruiu a Justiça, ou se os democratas conseguirem controlar o Congresso com as eleições de meio de mandato de novembro.