Muito além de transformar as economias domésticas, os impactos da Covid-19 precisam ser pensados e planejados em escala global. Pelo menos é o que entendem os líderes que formam o G20, grupo composto pelas 20 maiores economias do mundo – entre elas, o Brasil. Em um encontro virtual que aconteceu na última semana, a opinião dos representantes de países como Alemanha, Canadá, China, EUA e Japão é de que é necessário aliviar as economias de países mais pobres, por meio de uma moratória imediata. O pensamento, que vem ao encontro das premissas apontadas como essenciais para a economia global defendidas pelo Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI), serviria para da fôlego aos países endividados, ainda que seja pouco para resolver os problemas que virão.

A estimativa é de que a ajuda do G20 envolveria US$ 14 bilhões em dívidas postergadas, ainda que não tenha sido detalhado quais países seriam beneficiados ou quais são os credores. O objetivo de congelar dívidas públicas, por um período que gira entre seis e nove meses, podendo chegar até 2021, visa um empurrão maior na economia mundial a partir do segundo semestre do ano que vem. A medida se soma ao anúncio de FMI, também na semana passada, de liberar recursos para 25 países pobres investirem no combate da pandemia. Entre os beneficiados, quase todos africanos, estão Congo, Gâmbia, Guiné-Bissau e países de língua portuguesa, como São Tomé e Príncipe e Moçambique.

“Não há recuperação forte sem uma contenção forte”Kristalina Georgieva Diretora-gerente do fundo monetário internacional (FMI). (Crédito:Ichiro Ohara)

Na iniciativa do G20, a Alemanha se colocou como o arauto do alívio, movimento que foi rapidamente aderido por outros países europeus. “Com a recessão global cravada, o plano precisa ser de médio prazo e focar em como será reativada a economia”, avalia Carl Studart, consultor do FMI para América Latina. “A conta é simples: você posterga dívidas agora para eliminar a pandemia o mais rápido possível e ajuda esses países na retomada econômica mundial”, afirmou à DINHEIRO. Apesar do valor bilionário, Studart afirma que as nações endividadas precisarão correr atrás de outras negociações. “Elas terão de negociar diretamente com seus credores internacionais. Há uma abertura mundial para renegociações”, observa. Assim, conta ele, os países conseguirão reunir esforços para necessidades imediatas e não ficar a serviço de uma dívida que leva o recurso para outra nação.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, diz que as medidas anunciadas em escala global é pouco. “Estamos longe de ter um pacote global para ajudar o mundo em desenvolvimento a criar condições para suprimir a doença e enfrentar as dramáticas consequências em suas populações”, disse. Para ele, é necessário “uma resposta multilateral de larga escala, coordenada e abrangente, que atinja pelo menos 10% do PIB global”, valor que giraria em torno de US$ 8,6 trilhões.

População em risco Países Africanos estão entre os mais afetados com aumento da extrema pobreza no período que irá suceder a pandemia do coronavírus. (Crédito:Gordwin Odhiambo)

Apoio Em uma conferência virtual, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, traçou um cenário sombrio para a economia mundial, em função da pandemia. Para ela, é necessário que, além das medidas de contenção da doença, os países ricos assumam a responsabilidade de socorrer e ajudar também os emergentes. “Precisa ficar claro que acabar com o isolamento de forma prematura não fará com que a atividade econômica se recupere mais rápido, pelo contrário”, disse. Para ela, “não há recuperação forte sem uma contenção forte”. Na avaliação da dirigente, em uma estimativa conservadora, serão necessários investimentos da ordem de US$ 2,5 trilhões para ajudar as nações emergentes neste momento. “É claro que entramos em uma recessão”, disse Georgieva.

De acordo com as previsões do FMI, o tombo será maior entre as economias emergentes, grupo no qual o Brasil se encontra. A estimativa do Fundo é de que as nações em desenvolvimento registraram um êxodo de capital de mais de US$ 83 bilhões nas últimas semanas, com o PIB podendo cair até 5,3% em 2020. “Muitos deles já estavam fortemente endividados. Por isso, 80 países pediram ajuda de emergência ao FMI”, afirmou.