Agricultura foi uma grande aliada nos oito anos do mandato de Fernando Henrique. Ora ajudou no combate à inflação, ora trouxe resultados positivos para a balança comercial brasileira. Mesmo assim, o campo chegou a passar por momentos difíceis ao longo desse percurso. Nos primeiros anos do Plano Real, a agricultura brasileira teve de lidar com a valorização artificial do real, que encareceu os produtos ?Made In Brazil? no exterior e afetou diretamente as exportações de produtos básicos. Porém, o campo reagiu com ganhos em eficiência e em escala, e acabou auxiliando o governo federal a manter os preços dos alimentos em patamares baixos nas gôndolas dos supermercados ? contribuição que acabou lhe rendendo o apelido de ?âncora verde?.

 

A retribuição pelos bons serviços prestados, todavia, só viria mais tarde, com a abrupta desvalorização do real em 1999, que dá um novo fôlego para a exportação. O café, o açúcar, a carne, a laranja e a soja seguiram para os portos e a safra atingiu números recordes. Em 2001, as exportações de produtos animais somaram US$ 2,80 bilhões contra US$ 1,86 bilhão em 2000. Até o milho, que sem pre fora importado, passou a deixar o País. Enquanto os produtos de grãos somaram 81 milhões de toneladas em 1994, o volume chegou a ultrapassar 100 milhões de toneladas no ano passado. ?Tivemos um começo muito ruim com a sobrevalorização do real?, diz João de Almeida Sampaio Filho, presidente da Sociedade Rural Brasileira. ?Mas no final é certo que o balanço do governo foi positivo.?

Além do sobe-e-desce das moedas, muitos outros fatores contribuíram para as boas safras. O País manteve um investimento regular em Ciência e Tecnologia, com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) cumprindo papel fundamental ao expandir as fronteiras agrícolas para o Cerrado. Os gastos em tecnologia, aliado ao barateamento dos insumos agrícolas que decorreu da diminuição das barreiras alfandegárias, animaram a produção. É esse ganho que explica como o Brasil expandiu sua safra em 23% com um aumento da área plantada de apenas 10%. O custo social, contudo, foi uma das mais lamentáveis marcas deixadas em todo o mandato de FHC. ?Na década de 90, o aumento da produtividade no campo excluiu mais de 10 milhões de brasileiros, que tiveram de se mudar para as cidades?, diz Geraldo Barros, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP.

 

Para incentivar a produção, o governo também desonerou os exportadores de produtos primários de pagar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e renegociou as dívidas agrícolas. Além disso, a política de empréstimo a um juro fixo, menor que o reinante no mercado, e a ampliação do crédito rural (que subiu de R$ 9,2 bilhões em 1995 para R$ 15,9 bilhões em 2001) impulsionaram a colheita de bons resultados. Por fim, as políticas internas foram acompanhadas por um intenso trabalho junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), que gerencia as disputas comerciais entre países. ?Deixamos décadas de um modelo extremamente fechado para outro que inseriu o Brasil de modo mais aberto na economia internacional?, diz Fernando Homem de Melo, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. De 1996 a 2000, o País esteve envolvido em 16 disputas dentro da OMC, sendo que em sete delas como principal protagonista. Mais recentemente, o Brasil entrou ainda com queixas contra a União Européia e os Estados Unidos com relação ao açúcar, algodão, soja e suco de laranja.