Roberto Klabin ainda cursava direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, quando, por influência de Fábio Feldman, um amigo, ambientalista e também advogado, começou a ter contato com a agenda de sustentabilidade. Naqueles idos da década de 1970, ninguém ainda falava em ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança). Mesmo as conversas sobre a proteção do meio ambiente eram restritas a pequenos grupos. Mas Klabin, herdeiro da maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil, se interessou pelo assunto e tomou para si o papel de fazer a intendência do movimento, como ele próprio gosta de definir. “Conversava com ativistas e percebia neles a intenção de abraçar o mundo”, afirmou o executivo à DINHEIRO, eleito Empreendedor do Ano em ESG. “Decidi que minha contribuição seria trazer foco e disciplina para a melhor aplicação dos poucos recursos disponíveis para a causa.”

Em paralelo à influência que exercia no direcionamento ambiental e socialmente responsável da empresa da família, o executivo começou uma empreitada pessoal. Em 1986, fundou a S.O.S. Mata Atlântica. Sua função principal era arrecadar recursos. “Cheguei a deixar de ser convidado para diversas ocasiões porque, por onde eu passava, aproveitava para pedir dinheiro”, disse, sem esconder a satisfação. Duas décadas depois, em 2009, outra fundação foi criada por Klabin, a S.O.S. Pantanal. Ainda que não esteja mais à frente da organização, ele guarda especial apreço pela região onde está localizada a Reserva Ambiental Caiman, uma área de 53 mil hectares no Mato Grosso do Sul construída para ser um oásis de preservação da fauna, flora e cultura local. Um sonho que quase virou cinzas após o incêndio de 2019 devastar 80% da propriedade. “Ali entendi que tudo o que estamos construindo poderia ser completamente destruído em decorrência das mudanças climáticas.”

Pela segunda vez a força da natureza provocava o ambientalista. A primeira fora em 1960, quando outro grande incêndio, no Paraná, alcançou a Fazenda Monte Alegre, sede inaugural da Klabin. Amargar os prejuízos foi difícil, e obrigou a família a enxergar a necessidade de criar resiliência. “Logo percebemos que riscos ambientais representavam riscos de negócios.”

JORNADA ESG A história desse alinhamento com a natureza começou quando a família Klabin recebeu do então presidente da República Getúlio Vargas a missão de construir no Paraná uma fábrica de papel. A matéria-prima era a araucária. Iniciada as obras na fazenda, a geografia do terreno tornava antieconômico usar as árvores que povoavam os vales. Decidiram manter a mata intacta nestes acidentes geográficos que somavam 60 mil hectares dos 146 mil hectares da propriedade. A jornada ESG da empresa, portanto, começou não pela busca de boas práticas e sim por uma decisão financeira. “A noção da importância desse ativo só se deu no decorrer dos anos de 1980. Não foi do dia para noite”, afirmou.

Relembrar esse processo serviu para Roberto Klabin defender sua tese de que há uma parcela de empresas brasileiras, em especial as pequenas e médias, que precisarão de tempo, informação e apoio financeiro para entender a importância de estar em conformidade com as mais rigorosas práticas ambientais, sociais e de governança. Essa é uma missão que ele próprio exerce como presidente do Lide Sustentabilidade. “Acredito que a mudança climática é o maior risco que as empresas vão enfrentar. Para a Klabin, certamente é”, disse. Ele entende que a governança é um pilar essencial nessa nova economia e batalha para que a discussão do ESG ganhe escala. Assim, os empresários entenderão que a agenda não é marketing, e sim processo. O primeiro passo: mapeamento dos riscos ambientais e sociais inerentes à empresa. O segundo: implementação e mensuração de planos de ação para mitigá-los. Finalmente, transparência na comunicação das decisões da companhia.

Dentro dessa agenda, só um tema tira o humor do executivo: o governo Jair Bolsonaro. Ao avaliar a participação do Brasil na COP-26, realizada em novembro, na Escócia, afirmou que o governo fez “coisa de moleque” ao divulgar a informação mentirosa de que o desmatamento da Amazônia havia caído 5% em 2020/2021. O dado real aponta para alta de 20%, o maior índice desde 2006. Sua divulgação, todavia, só aconteceu uma semana após o fim do evento, apesar de já ser da ciência do governo três dias antes do início do evento. Para que as questões ambientais voltem a ser prioridade no País, o executivo elenca três caminhos: combater o negacionismo, a ignorância e usar as urnas em 2022. “Infelizmente as práticas da administração Bolsonaro estão destruindo as vantagens que o Brasil possui. A esperança é mudar de governo e trazer um que seja mais consciente”.

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