Na noite passada, tive um sonho perturbador. Um pesadelo difícil de esquecer. Sonhei que o senador tucano Aécio Neves havia vencido a última eleição e era o atual presidente da República. As cenas eram muito reais. Assustadoras. Assim que tomou posse, o Brasil começou a derreter. Todas as promessas de campanha foram jogadas no lixo.

A grande maioria de seus eleitores foi tomada por um sentimento de traição. Como num passe de mágica, o ambiente positivo deu lugar a um pessimismo generalizado. As grandes conquistas sociais dos últimos 12 anos de gestão do PT foram se deteriorando. Em seis meses de mandato, a taxa de desemprego, medida pelo IBGE, disparou de 4,3%, em dezembro de 2014, para 6,9%, em junho deste ano, uma alta de 60%. As empresas demitiam em massa. Quase 2 milhões de pessoas estavam no olho da rua. As maiores montadoras do País, que simbolizaram com precisão o avanço econômico recente, não tinham como manter seus metalúrgicos.

O terror no meu subconsciente foi ainda mais longe. As empresas foram autorizadas a reduzir salário e jornada. Um retrocesso jamais visto. A crise na economia não poupava ninguém e se alastrava como fogo no mato seco. O índice de reprovação do presidente Aécio atingiu 71%, pelos cálculos do Datafolha, superando até o ex-presidente Fernando Collor de Mello, às vésperas do impeachment, em 1992. A saída do presidente recém-eleito já era cogitada. Nem mesmo os fiéis companheiros tucanos se entendiam nos bastidores. Alguns defendiam com unhas e dentes. Atribuíam a crise à imprensa golpista. Ninguém sabia por onde andava José Serra. O governador paulista, Geraldo Alckmin, evitava aparecer em público ao lado de Aécio. Alguns articuladores da campanha tucana foram em cana, suspeitos de financiar a eleição com dinheiro de propina da Petrobras. O neto de Tancredo estava cada vez mais isolado, e seu apoio político no Congresso perdendo força. Uma crise política sem precedentes na história recente.

Na economia, o dólar caminhava firme para a cotação de R$ 4. A inflação, a grande bandeira de Aécio durante a corrida eleitoral, estava fora de controle e próxima a dois dígitos. A taxa básica de juros subia a um ritmo impressionante – muitos diziam, nos corredores, que “o coxinha” estava retribuindo aos banqueiros as doações de campanha. Bobagem sem tamanho, que só um sonho ruim pode supor. As contas públicas registravam o maior déficit de todos os tempos, ao atingir R$ 1,6 bilhão no primeiro semestre. O tão suado grau de investimento, a estrelinha de bom pagador que o Brasil conquistou nos últimos anos, estava prestes a cair. A conta de luz disparou. O Bolsa Família foi congelado. As linhas de financiamento estudantil ficaram restritivas. Uma tempestade perfeita.

Visivelmente abatido e sob pressão, o presidente já não dizia coisa com coisa. Saudava mandiocas, dizia ter muito respeito pelo ET de Varginha e tirava gargalhadas da plateia. Dizia que não faria metas, mas que dobraria a meta assim que ela fosse atingida. Oi? Os mais próximos garantiam que ele devia estar sob efeito colateral de calmantes ou de suas pedaladas matinais. Ainda bem que logo amanheceu. Corri para buscar o jornal por debaixo da porta e percebi que Aécio não era o presidente.  Ufa! Foi só um pesadelo.

(Nota publicada na Edição 929 da Revista Dinheiro)