Os ministros europeus das Finanças tentam, nesta quinta-feira (9), evitar um novo fracasso e forjar uma resposta econômica comum à crise do coronavírus, após muitas horas de negociações infrutíferas nos últimos dias.

Um novo fracasso ameaçaria a unidade da zona do euro e colocaria toda a pressão nas mãos dos chefes de Estado e de Governo, que nem ser chegaram a um acordo durante sua cúpula em 26 de março, que revelou a fratura entre os países da Norte e do Sul do continente.

“Se não aproveitarmos esta oportunidade para dar um novo fôlego ao projeto europeu, o risco de fracasso é real”, alertou o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte em entrevista à BBC.

A chanceler alemã Angela Merkel expressou esperança de um compromisso, enquanto seu colega holandês Mark Rutte considerou um acordo “possível”.

Um entendimento é mais do que necessário, pois a economia europeia está caminhando para uma profunda recessão em 2020. O FMI prevê a “pior crise econômica” desde a Grande Depressão de 1929, estimando que 170 países entre seus 189 membros sofrerão uma contração em sua renda per capita este ano.

“A confiança de nossos cidadãos depende de nós. Temos que chegar a um acordo”, escreveu o presidente do Eurogrupo, Mario Centeno, no Twitter pouco antes da reunião.

“Um fracasso é impensável”, alertou o ministro francês Bruno Le Maire.

Na quarta-feira, após 16 horas de discussões, os ministros das Finanças da UE não chegaram a um acordo sobre uma resposta econômica comum à pandemia, devido aos países do Norte, especialmente Holanda, claramente contrários aos do Sul, que exigem um esforço financeiro sem precedentes.

Esse bloqueio é “contraproducente, incompreensível e não pode durar”, condenou a presidência francesa.

– “Irresponsável” –

Os Estados-membros criticam a Holanda – apoiada, segundo uma fonte europeia, pela Áustria, Suécia e Dinamarca – por bloquear o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), condicionando os empréstimos que este fundo de ajuda da zona euro poderia conceder a reformas econômicas.

Esse “condicionamento”, que faria retroceder à época em que a Grécia era forçada a aplicar reformas dolorosas, seria experimentado como humilhação pela Itália e pela Espanha, os dois países europeus mais afetados pela pandemia.

O MEE, criado em 2012 durante a crise da dívida na zona do euro, poderia conceder empréstimos a um Estado em dificuldades de até 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB), ou até 240 bilhões de euros para todo o zona do euro.

“Há realmente coisas a serem discutidas. (Mas) se precisarmos de mais tempo, levaremos”, disse o ministro das Finanças da Holanda, Wopke Hoekstra, na quarta-feira, pouco antes da reunião.

No jornal Libération, o ex-presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, considerou o bloqueio holandês “irresponsável” e considerou que “o MEE não será suficiente para relançar” as economias europeias, que precisam criar uma capacidade de dívida comum em torno da emissão de “coronabônus”.

Esta proposta é apoiada por França, Grécia, Malta, Luxemburgo e Irlanda, de acordo com diferentes fontes ouvidas pela AFP.

“Os eurobonds representam uma resposta séria e apropriada”, insistiu o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, na segunda-feira à noite.

A mutualização da dívida é, de fato, uma linha vermelha para Berlim e Haia, que se recusam a se comprometer com um empréstimo conjunto com Estados fortemente endividados, que consideram maus administradores.