Líderes da União Europeia participam, nesta quinta-feira (1o), de uma cúpula em Bruxelas, na qual abordarão as disputas que ameaçam seu enorme pacote de recuperação econômica pós-pandemia e enfraquecem sua capacidade para responder às crises em suas fronteiras com Turquia e Belarus.

A primeira noite da cúpula extraordinária de dois dias será dominada pelos complicados vínculos do bloco com a Turquia. Esta última se encontra envolvida em uma perigosa disputa marítima com Grécia e Chipre, no Mediterrâneo oriental, por jazidas de gás.

Também estará em pauta o compromisso de vincular o acesso aos fundos da UE à situação do Estado de Direito em um dado país. A proposta encontra forte oposição da Hungria e tem grande impacto em outras negociações.

Em uma turbulenta cúpula de quatro dias realizada em julho, os líderes concordaram em autorizar a UE a assumir uma dívida para financiar um gigantesco plano de recuperação de 750 bilhões de euros (cerca de US$ 880 bilhões), apoiado por um orçamento da UE, de longo prazo, de 1 trilhão de euros.

O presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, advertirá os chefes de governo sobre a oposição dos eurodeputados aos cortes em programas-chave da UE no plano orçamentário e dirá que querem mais 100 bilhões de euros (US$ 118 bilhões).

O Parlamento poderá ainda se negar a aprovar todo pacote. Hungria e Polônia também poderão bloquear o acordo, caso o acesso aos fundos continue condicionado ao respeito dos padrões europeus do Estado de Direito.

– Foco na diplomacia

Os líderes europeus parecem, no entanto, querer evitar áridas discussões sobre orçamentos. Fontes de diferentes ministérios das Relações Exteriores garantem que a intenção de todos é discutir assuntos diplomáticos e a posição estratégica da Europa.

No jantar de trabalho desta quinta, serão analisados os vínculos com a Turquia. Em tese, o país continua sendo um candidato ao bloco e permanece como um ator crucial na adoção de medidas migratórias. No momento, causa preocupação por protagonizar uma alta tensão militar com Grécia e Chipre no Mediterrâneo oriental.

Em seu convite à cúpula, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, advertiu que “todas as opções permanecem sobre a mesa”, se a Turquia não participar de maneira construtiva dessas discussões.

Ao chegar a Bruxelas, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que Berlim tem “interesse em um diálogo construtivo” com a Turquia.

Já o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, afirmou que seu país tem particular interesse nessa questão, “porque compartilhamos o Mediterrâneo com Grécia e Chipre”. Ele manifestou a solidariedade espanhola com ambos os países.

Ao desembarcar em Bruxelas, o presidente da França, Emmanuel Macron, declarou que a solidariedade da UE com Grécia e Chipre “é inegociável”.

Em Ancara, mantendo o tom belicoso, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse a parlamentares que “a UE, refém dos pretensiosos governos de Grécia e Chipre, se tornou uma instituição ineficiente e superficial”.

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