A União Europeia deixou a porta aberta, nesta quinta-feira (15), para continuar a negociar com o Reino Unido um acordo sobre a relação pós-Brexit, mas atribuiu a Londres a responsabilidade de dar “os passos necessários” para que um entendimento seja possível.

No primeiro dia de uma cúpula em Bruxelas para discutir este assunto, os 27 líderes europeus encontraram um equilíbrio delicado entre firmeza e abertura para manter contatos.

O Reino Unido deixará a união aduaneira em 31 de dezembro deste ano. Londres e Bruxelas tentam, desde o início de 2020, chegar a um acordo sobre como funcionará sua relação a partir de 2021.

Em todo caso, este acordo ainda deve ser ratificado por Londres e pelas 27 capitais europeias antes do final do ano. Por isso, os negociadores estão em uma corrida desesperada contra o relógio.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, havia mencionado a data desta quinta-feira, 15 de outubro, como prazo para decidir se seu governo insistiria nas negociações, ou se simplesmente se retiraria da mesa de diálogo.

Pouco depois das conclusões da cúpula que acontece nestas quinta e sexta-feiras em Bruxelas, um porta-voz do gabinete de Johnson reiterou que o primeiro-ministro e sua equipe vão analisar a posição dos líderes europeus antes de tomar uma decisão.

Johnson “refletirá sobre o resultado do Conselho Europeu antes de decidir sobre os próximos passos do Reino Unido”, disse o porta-voz.

“O Conselho Europeu convida o negociador-chefe a prosseguir as negociações nas próximas semanas e apela ao Reino Unido para que tome as medidas necessárias para tornar possível um acordo”, assinala o ponto 5 das conclusões sobre o Brexit.

Os dirigentes também alertaram os países-membros a “aumentarem o ritmo dos trabalhos preparatórios, em todos os níveis”, para qualquer cenário, inclusive aquele em que não haja acordo entre Londres e as capitais europeias.

– Evitar uma ruptura –

De acordo com as conclusões, os líderes expressaram sua preocupação, “porque os progressos realizados em temas de interesse da UE ainda são insuficientes para se chegar a um acordo”.

Embora o documento agora coloque a responsabilidade por um acordo sobre os ombros dos líderes britânicos, as autoridades europeias abriram um caminho para tentar evitar uma ruptura brutal.

Por isso, não pediram apenas ao principal negociador, o francês Michel Barnier, que continue a discutir “nas próximas semanas”, mas também mencionaram a determinação da UE de ter “uma parceria o mais próxima possível” com o Reino Unido.

As três principais preocupações da Europa para fechar um acordo giram em torno de regras de concorrência, resolver como essas regras serão controladas e garantir o acesso às águas britânicas para as frotas de pesca da UE.

Em uma mensagem postada no Twitter, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou que a UE ainda está interessada em um acordo, “mas não a qualquer preço”.

Ao chegar esta quinta-feira à sede do Conselho Europeu, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse querer ser “muito claro” sobre a questão da pesca, um dos obstáculos a um acordo: “Em nenhum cenário, os pescadores franceses serão massacrados pelos Brexit. Nós não escolhemos o Brexit”.

Para a chefe do governo alemão, Angela Merkel, “obviamente” o acordo não pode ser alcançado “a qualquer custo”.

“Precisamos de um acordo justo, do qual ambas as partes possam se beneficiar”, ressaltou a chanceler.

Logo após o início formal da cúpula, Von der Leyen surpreendeu, ao anunciar sua retirada imediata das reuniões, devido a um caso positivo de coronavírus em sua equipe.

“Fui informada de que um membro do meu gabinete testou positivo para covid-19 esta manhã. Eu testei negativo. No entanto, como precaução, estou me retirando imediatamente do Conselho Europeu para iniciar o autoisolamento”, anunciou no Twitter.