As autoridades europeias temem que as “fake news” tumultuem a campanha das eleições para o Parlamento europeu, como ocorreu no referendo do Brexit e na vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, em ações que acreditam terem sido articuladas pela Rússia.

A poucos dias do pleito, a UE busca um caminho a seguir, coordenando as iniciativas de seus membros e aumentando a pressão sobre as redes sociais, como Facebook ou Twitter, principais vetores da desinformação.

“Existem forças externas antieuropeias que tentam influir nas decisões democráticas dos europeus”, alertou recentemente o chefe do Conselho Europeu, Donald Tusk, preocupado com as eventuais “ingerências” durante as eleições.

Alguns dirigentes identificam sem rodeios Moscou como líder da tentativa de manipular a opinião pública com a distribuição de notícias falsas, como Andrus Ansip, vice-presidente da Comissão, para quem “existem provas” disso.

Desde as migrações até a corrupção das elites, passando por todo tipo de complôs, a desinformação tem seus temas favoritos, quase sempre acompanhando os movimentos chamados populistas ou de extrema-direita.

As notícias falsas aproveitam a rapidez na distribuição e o sucesso na internet dos conteúdos sensacionalistas, assim como a desconfiança reinante em relação às instituições e à imprensa, uma “praga invisível”, nas palavras da comissária Mariya Gabriel.

Esta “se mistura na vida de nossos cidadãos e influencia nossas opiniões e decisões”, assegura a encarregada europeia em Economia Digital, em um relatório publicado no fim de março pela Fundação Robert Schuman.

– “Censura” –

Para obter uma ação coordenada para as eleições que serão realizadas entre 23 a 26 de maio, a Comissão Europeia fixou algumas linhas de atuação, pedindo apoio ao jornalismo de qualidade ou a colaboração com com verificadores de notícias (“fact-checkers”).

Bruxelas lançou também em março um “sistema de alerta rápida” para que os países compartilhem “em tempo real” suas informações sobre “tentativas coordenadas de atores estrangeiros de manipular” o debate democrático.

Em Bruxelas, a diplomacia europeia através do Serviço Europeu de Ação Exterior (SEAE) foi à luta com uma equipe de 15 pessoas encarregada de detectar e analisar as campanhas de desinformação contra a UE.

O site euvsdisinfo.eu afirma ter desmascarado até agora mais de cinco mil falsas notícias, vinculadas principalmente à Rússia, mas os meios desta unidade são modestos e seu enfoque levanta dúvidas.

Em um estudo recente sobre a “guerra da informação”, Paul Butcher, do centro de reflexão European Policy Center, afirma que “dar um papel de destaque ao SEAE ou aos serviços de segurança dos governos pode ser contraproducente”.

Isto pode alimentar a ideia “de censura ou de guerra cultural entre o ‘establishment’ e o ‘povo'”, um dos motores justamente das “fake news”, estima o analista, que defende a participação da sociedade civil, as ONGs ou o setor privado.

– “Atenção mundial” –

Nos últimos meses, as autoridades destacaram a responsabilidade das redes sociais como Facebook ou Twitter, seja através de leis, como na França, ou com um “código de boas práticas”, como o lançado pela Comissão em 2018.

“De forma voluntária, a indústria se compromete com uma ampla gama de medidas que vão desde a transparência na publicidade política até o bloqueio de contas falsas”, explicou Mariya Gabriel, que comemorou uma “atenção mundial”.

A iniciativa, que também implica reduzir as ações de desinformação, produziu alguns resultados, mas ainda longe do objetivo, segundo o último informe publicado em março pelo executivo da UE.

“A Europa está em chamas e as plataformas sociais trazem pistolas d’água para combater o fogo”, lamenta a organização Avaaz, que pede a Bruxelas adotar medidas vinculantes e não um marco voluntário.

O presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, no meio dessa questão por conta do escândalo com a Cambridge Analytica e pelo papel da sua rede na propagação das “fakes news”, escreveu um texto em março no qual expressou seu apoio aos governos para que adotem um papel “mais ativo”.

Mas o Facebook “tem perdido credibilidade por seu comportamento”, garantiu a ministra alemã de Justiça, Katarina Barley, após se reunir em abri com Zuckerberg, ilustrando ceticismo patente sobre a gigante do mundo digital.