A primeira-ministra britânica, Theresa May, foi alertada nesta quinta-feira (18) por chefes de Estado e governo europeus de que estes não farão mais concessões nas negociações do Brexit, embora tenham expressado confiança em alcançar um acordo antes do divórcio, previsto para março.

“Identificamos todos os cenários de um ponto de vista técnico. O elemento-chave para um acordo final está do lado britânico. O elemento-chave é um compromisso britânico”, declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, ao fim de dois dias de uma cúpula em Bruxelas.

Os europeus esperavam “propostas concretas” de May para destravar a negociação, estagnada na questão de como evitar o retorno de uma fronteira clássica entre a província britânica da Irlanda do Norte e a Irlanda. Embora não tenham conseguido, o clima era mais positivo entre as duas partes.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, se mostrou confiante de que Londres e Bruxelas estão “mais próximas das soluções finais e de um acordo”, embora tenha afirmado que sua visão é “mais emocional do que racional”. “Mas as emoções também contam na política”, acrescentou.

O único resultado da cúpula foi Theresa May ter deixado a porta aberta para uma eventual prorrogação do período de transição após o divórcio planejado para 29 de março. O prolongamento “provavelmente será feito”, segundo o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

O objetivo desta extensão é duplo. Por um lado, reduzir a tensão sobre a questão da Irlanda, para poder alcançar um acordo de divórcio e, além disso, dar tempo para as duas partes negociarem e ratificarem a futura relação comercial entre o Reino Unido e seus 27 sócios.

O período de transição representa, por outro lado, uma questão difícil de ser aceita pelos partidários de um Brexit duro, pois implica que durante esse período o Reino Unido deveria beneficiar e respeitar as regras europeias, mas sem participar das tomadas de decisões.

A primeira-ministra britânica, sob pressão da ala eurocética do seu Partido Conservador, indicou que a extensão seria “durante alguns meses” e afirmou que a sua intenção não é usá-la, pois espera chegar a um acordo sobre a relação futura antes do fim de 2020.

Mas a mera menção a isso na véspera já despertou reações dos eurocéticos no Reino Unido. “May brinca com fogo”, disse o jornal conservador The Sun nesta quinta-feira.

– Irlanda e Gibraltar –

As negociações do Brexit estão paralisadas na questão sobre como evitar o retorno de uma fronteira clássica e manter a fluidez de circulação de bens entre Irlanda e e a província da Irlanda do Norte, para preservar os acordos de paz da Sexta-Feira Santa de 1998.

Sem uma alternativa melhor, as duas partes concordaram em dezembro que a Irlanda do Norte continuaria ao final da transição no mercado único europeu e na união alfandegária, algo rejeitado agora por Londres porque isto criaria uma fronteira dentro de seu próprio país.

As propostas de Londres, como a criação de um “acordo alfandegário temporário”, não conseguem convencer a UE, que vê nelas uma tentativa de obter “acesso à carta” a seu espaço econômico e um ataque à integridade de seu mercado único.

“Enquanto não houver solução, não poderemos explicar como podemos ter sucesso”, disse a chanceler alemã, Angela Merkel. Tanto Londres como Bruxelas preparam-se para enfrentar as consequências de um eventual Brexit sem acordo.

Apesar da falta de “progressos substanciais” na negociação, que levou os 27 a não convocarem uma cúpula extraordinária em novembro para finalizar um eventual acordo, o capítulo de Gibraltar no divórcio “já está resolvido”, segundo o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez.

“Gibraltar não vai ser um problema para chegar a um acordo sobre o Brexit”, disse Sanchez em uma entrevista coletiva.

– Migração –

O Brexit é uma das crises políticas abertas nos últimos anos no bloco, ao lado da divisiva política de recepção de refugiados.

A UE, que busca intensificar a cooperação com os países de origem e trânsito de migrantes, especialmente do norte da África, anunciou nesta quinta-feira, ao final da reunião, a realização de uma cúpula com os países da Liga Árabe nos dias 24 e 25 de fevereiro no Egito.

A cooperação com os países de origem e de trânsito tornou-se uma das prioridades da estratégia dos europeus para impedir a chegada de migrantes, principalmente da África, embora continuem divididos quanto à reforma da sua política comum de asilo.