A Internet já chegou à tevê. Propagandas de sites invadiram o horário nobre. Tecnologia virou matéria de noticiário e o telespectador até se acostumou a mandar perguntas, via www, para entrevistados. Agora, é a segunda onda. A tevê vai invadir a Internet, com um nome pomposo, broadband ? ou banda larga, que permite a transmissão de vídeos, sons e imagens com velocidade e qualidade pela Internet. Nada mais é que a tecnologia que permite a migração da velha telona para a rede. As primeiras apostas nacionais já começaram, de forma tímida, com programas veiculados exclusivamente na Web. Mas, a partir deste mês, os portais preparam uma avalanche de televisão interativa. Um movimento que promete mudar a maneira que o usuário navega na rede e a forma que o telespectador vê televisão. No mundo todo, a Internet rápida tem mais de 13 milhões de usuários. No Brasil, ela não chega a 10 mil. Por enquanto. ?Já apostamos nessa nova mídia. Entramos e muito bem?, garante Caio Túlio Costa, diretor-geral do UOL Brasil. Entre os portais nacionais, o UOL saiu na frente. Montou um estúdio e passou a produzir conteúdo exclusivo para a Internet. Apesar de não revelar investimentos nessa nova mídia, o executivo afirmou que a broadband é a prioridade do momento. O único canal a entrar no ar foi o Gabi.uol, um programa de entrevistas comandado pela jornalista Marília Gabriela. Estreou dia 19 de junho, ao vivo, com o ator Marcelo Anthony. O programa, que vai ao ar duas vezes por semana e tem uma hora de duração, mistura entrevistas de famosos com a participação ao vivo dos internautas. O segundo grande projeto da TV UOL ainda é tocado em segredo. ?Não queremos diminuir a expectativa criada em torno do novo programa?, diz Caio Túlio. Na verdade, o executivo não quer dar balas para a concorrência. Ele adianta, entretanto, que o jornalista Paulo Henrique Amorim será âncora de um programa interativo de notícias, focado em política e economia, que deverá estar no ar no começo do segundo semestre. ?Será um canal jornalístico. Diferente de tudo o que existe.?

Seu maior rival, o IG, também não quer deixar por menos. ?Estamos totalmente voltados para as novas tecnologias wireless e broadband?, afirma o presidente do IG, Nizan Guanaes. Depois de firmar parceria com a Rede Bandeirantes, começou a construir dois megaestúdios de televisão, um na Vila Olímpia e outro na sede da empresa, na Rua Amauri. Os estúdios estarão prontos em um mês e meio. ?Serão glass studios, como já existe em algumas cidades americanas?, adianta Guanaes. Traduzindo: estúdios com paredes de vidro, que permitem aos passantes da rua participar da produção dos programas, opinando e atuando como coadjuvantes. Guanaes também mantém em segredos os detalhes da TV IG. ?Estaremos criando conteúdo exclusivo?, diz ele. ?Seremos uma MTV Business ou, se você preferir, uma Forbes Musical.? A idéia é colocar na rede uma programação voltada ao jovem empresário, homem de negócios e executivo. O foco deste canal será em negócios e notícias. Mas nada chato. ?Por que não misturar clipes de música com bolsa de valores? O jovem adora Pearl Jam, mas tem de estar plugado nas ações da bolsa?, diz Guanaes. No princípio, a TV IG estará no ar no horário comercial, entre 8 e 18 horas. ?Hoje não há demanda suficiente que justifique uma programação 24 horas. É como no início da tevê, quando você tinha poucos aparelhos e poucos espectadores. Mas este é o futuro?, diz o publicitário.

Interativo. Mas prepare-se para ver conteúdo e forma completamente diferente. É uma tevê de cara nova. ?Imitar a tevê é perda na certa?, lembra Luis Mário Bilenky, presidente mundial da Starmedia. ?É preciso criar coisas que não são possíveis nem na tevê nem no rádio.? O grande diferencial é a interatividade. Desde setembro do ano passado, a Starmedia vem trabalhando com programas de televisão na rede. Construiu seu estúdio em São Paulo, e agora já tem uma programação com dois canais semanais. O Quinta DJ, que é um encontro com badalados DJs do momento e o Bate Papo com as Minas, em que duas apresentadoras convidam músicos para conversas. ?A cada semana poderemos estar criando um programa específico para um nicho específico?, diz ele.

Até mesmo os novatos já abriram o olho para este novo mercado. O Panorama Brasil, um jornal econômico e político on-line, já começou com boletins de notícia de tevê. A cada três horas, entra no site um repórter, lendo um boletim de notícias. Muito semelhante ao que é feito hoje na televisão. O grande diferencial é que a tecnologia proporciona que os repórteres saiam para a rua com câmeras digitais, colocando os eventos direto no ar. ?É uma forma de integrar texto, áudio e vídeo, com a velocidade da Internet?, lembra Roberto Muller Filho, diretor de redação. Na estréia do portal, na última quarta-feira, por exemplo, o grande destaque era o presidente da República Fernando Henrique Cardoso. A entrevista, feita dias antes, podia ser vista em três línguas, ou por área de interesse. ?O usuário ganhou o direito de editar a entrevista da forma que deseja.?