A Turquia consolidou nesta terça-feira (25) as suas posições militares na Síria, no último grande reduto insurgente de Idlib, enquanto o prazo para o estabelecimento de uma “zona desmilitarizada” da qual os extremistas devem ser expulsos se aproxima.

Ancara deve assumir a difícil tarefa de convencer os rebeldes de Idlib a respeitar a criação desta zona desmilitarizada, prevista para 15 de outubro.

O desafio é ainda mais delicado posto que centenas de extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) acabam de ser transferidos para esta província localizada no noroeste da Síria.

A Turquia está inquieta pelo destino de Idlib, já que esta região está situada na fronteira entre os dois países e sua instabilidade repercutiria em seu território.

Em 17 de setembro, Ancara negociou com Moscou um acordo sobre a criação de uma “zona desmilitarizada”, o que afasta a possibilidade de uma ofensiva de Damasco em Idlib.

Essa iniciativa prevê uma zona “tampão” de entre 15 e 20 quilômetros de distância para isolar os territórios insurgentes das áreas próximas sob controle do governo.

Segundo este acordo, todas as armas pesadas dos grupos rebeldes terão que ser retiradas da zona e, sobretudo, os extremistas foram solicitados a abandonar o setor, que estará controlado pelas forças turcas e pela polícia militar russa.

Nesta terça, chegaram reforços do Exército turco à província. Durante a noite, 35 veículos militares percorreram a estrada principal da fronteira turca até uma área próxima à localidade de Saraqib, constatou um jornalista da AFP.

O comboio estava acompanhado por combatentes da Frente de Libertação Nacional (FNL), coalizão rebelde pró-turca.

De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), as forças turcas foram enviadas a vários dos 12 postos de observação em poder do Exército de Ancara.

– Extremistas céticos –

O acordo russo-turco dá um relativo respiro a Idlib, em um país devastado desde 2011 por uma guerra que já deixou mais de 360.000 mortos.

Diante da ameaça de uma ofensiva do regime, agências da ONU e ONGs internacionais advertiram sobre um possível “banho de sangue” em Idlib, temendo que possam registrar a “pior catástrofe humanitária” do século XXI.

Três milhões de pessoas, das quais a metade foi deslocada de outras regiões da Síria, vivem na província e nos bolsões rebeldes vizinhos de Hama, Aleppo e Latáquia, segundo a ONU.

Mas nada ainda está resolvido e, para Ancara, o quebra-cabeças acaba de começar. Agora é necessário convencer os extremistas a respeitarem o acordo, em particular o poderoso grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), controlado pelo ex-braço sírio da Al-Qaeda.

Junto com outras facções extremistas, o HTS controla quase 70% da “zona desmilitarizada” prevista, segundo o OSDH.

Embora a organização ainda não tenha reagido oficialmente à iniciativa russo-turca, esta se mostrava cética, por meio de seu órgão de propaganda Ebaa, sobre as intenções da Turquia. No sábado, o grupo Huras al-Din, vinculado a Al-Qaeda, rejeitou este acordo.

A situação se complica ainda mais em um momento em que o regime sírio transferiu mais de 400 combatentes do EI para Idlib, segundo o OSDH.

Além disso, o grupo ultrarradical é inimigo do Hayat Tahrir al-Sham, e suas células adormecidas já presentes em Idlib executaram nos últimos meses vários assassinatos e ataques contra líderes e combatentes do HTS.