A Turquia anunciou nesta quarta-feira (25) ter acusado formalmente a 20 sauditas, entre eles duas pessoas próximas ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em Istambul há mais de um ano.

Khashoggi, um colaborador do jornal Washington Post e crítico do regime saudita, foi assassinado em outubro de 2018 no consulado da Arábia Saudita, onde havia ido pegar um documento.

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Oração fúnebre em homenagem ao jornalista Khashoggi em Istambul

Esse assassinato mergulhou a Arábia Saudita em uma de suas piores crises diplomáticas e manchou a imagem do príncipe herdeiro, designado por autoridades turcas e americanas como o responsável pela morte.

Nesta quarta-feira, o escritório do procurador-geral de Istambul anunciou em comunicado que a investigação turca sobre o caso foi concluída e uma acusação foi preparada.

Dois amigos íntimos do príncipe Salman aparecem na acusação como autores intelectuais do crime: o ex-conselheiro Saud Al Qahtani e o ex-número um de inteligência, o general Ahmed Al Assiri, segundo a mesma fonte.

São acusados de terem ordenado um “homicídio voluntário premeditado com a intenção de infligir sofrimento”. No mesmo documento, outros 18 suspeitos são acusados de ter participado do crime.

Os 20 acusados podem ser condenados à prisão perpétua.

Segundo a Turquia, Khashoggi foi estrangulado e seu corpo desmembrando. Os restos do jornalista de 59 anos nunca foram encontrados.

Após negar o assassinato e apresentar versões contraditórias, as autoridades de Riade afirmaram que o crime foi cometido por agentes sauditas que atuaram sozinhos e sem ordens de altos dirigentes.

– Tensões turco-sauditas –

No final de um julgamento opaco na Arábia Saudita, cinco sauditas foram condenados à morte no ano passado. Nenhuma acusação foi apresentada contra Qahtani e Assiri foi absolvido.

A Turquia chamou o veredito de “escandaloso”, considerando que os verdadeiros autores se beneficiaram da “imunidade”.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, nunca acusou abertamente o príncipe herdeiro, mas as autoridades turcas e a imprensa próxima ao governo cuidaram disso.

Após o assassinato, investigadores turcos revistaram o consulado, a residência do cônsul saudita, rastrearam os movimentos dos suspeitos e obtiveram depoimentos de mais de 50 pessoas, segundo a promotoria.

As autoridades turcas emitiram ordens de captura contra os suspeitos, que estão no exterior.

Turquia e Arábia Saudita são dois potentes rivais no mundo muçulmano e o anúncio desta quarta-feira ameaça voltar as tensões nas relações, prejudicadas pelo caso Khashoggi.

A CIA e uma especialista da ONU acusaram o príncipe herdeiro. Mas o presidente Donald Trump o defendeu.