A trajetória da catarinense Fundição Tupy, maior empresa do gênero na América Latina, está prestes a sofrer uma grande reviravolta. É que o principal acionista da companhia, o Previ (fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil) está à cata de um sócio estrangeiro para o negócio. A tarefa foi confiada ao Rotschild, tradicional banco inglês. Ninguém na empresa ou na direção da Previ comenta o caso ou sequer dá pistas sobre os possíveis interessados. Mas apesar das dificuldades vividas pela companhia ? que acumula um passivo de R$ 700 milhões e fechou o primeiro semestre com prejuízo de R$ 34 milhões ? os acionistas (o grupo inclui ainda os fundos Telos, Aerus e o BNDESpar) acreditam ter em mãos uma ?noiva? bastante atraente. De acordo com um executivo da companhia, as encomendas em carteira totalizam R$ 1,1 bilhão, até o final de 2007. Isto sem contar os milionários contratos de fornecimento de peças, já fechados com a alemã Audi e a americana Ford, cujos embarques começam em 2003. No caso da montadora germânica, os blocos de motor vão equipar o modelo A6. Os termos do contrato são mantidos em sigilo. ?Vencemos duas das maiores fundições da Europa?, lembra o executivo. Com a Ford, a Tupy se comprometeu a entregar 150 mil blocos por ano, que deverão render cerca de US$ 210 milhões até o final de 2013. Parte deles vai equipar a versão 2004 do Jaguar (marca inglesa controlada pela Ford).

A vitória da Tupy no cenário internacional não se deu por acaso. Ela foi fruto de uma aposta dos técnicos da companhia na tecnologia do ferro fundido vermicular. Traduzindo: é um material que permite produzir um motor tão leve quanto o de alumínio e muito mais resistente que o de ferro tradicional. Para tornar-se uma das quatro empresas do mundo que dominam este processo a empresa gastou US$ 19 milhões. Mas se o negócio é tão promissor por que, então, o Previ está disposto a abrir mão de parte do controle da fundição? Simplesmente porque a entrada em cena de um parceiro global pode, de imediato, ampliar o cacife da Tupy no mercado internacional.

A história da Tupy reúne todos os elementos de uma verdadeira saga corporativa. Os fundos e os demais acionistas entraram no negócio em 1995, após a segunda fase do processo de reestruturação, quando a família Schmidt saiu definitivamente de cena. Fundada em 1938, pelo imigrante alemão Albano Schmidt, foi pelas mãos de Dieter, filho de Albano, que a Tupy tornou-se a base de um império composto por 29 empresas. A reviravolta se deu em 1981, após a morte do empresário em um acidente de avião. Apesar de ter encolhido sensivelmente, a companhia ainda é uma das principais referências da história industrial de Santa Catarina. ?Aqui em Joinville, cerca de 10% da população depende direta ou indiretamente da Tupy?, lembra um executivo da companhia.