Sete anos após a revolução contra a ditadura e a corrupção, a Tunísia enfrenta protestos sociais marcados pelos mesmos lemas de “trabalho, liberdade, dignidade”, com inúmeros cidadãos desesperados para conseguir melhorar suas condições de vida.

“Faz sete anos que esperamos, sem nenhuma mudança. Tivemos a liberdade, é verdade, mas estamos mais famintos que antes”, lamentou Walid, desempregado de 38 anos em Teburba, na véspera da comemoração do aniversário da revolta, neste domingo.

A cidade de Teburba, perto de Túnis, foi o cenário de várias noites de confrontos entre jovens manifestantes e as forças de segurança nesta semana, assim como outras cidades, onde cerca de 800 pessoas foram detidas.

Esse movimento de protesto surgiu após a adoção de um orçamento para 2018 que aumenta os impostos e cria taxas que encolhem o poder aquisitivo, já debilitado por uma grande inflação.

Para a cientista política tunisiana Olfa Lamlum, “essas mobilizações sociais revelam a ira, conduzida pelos mesmos que se mobilizaram em 2011 e não conseguiram nada de direitos econômicos e sociais”.

O governo tunisiano convocou uma reunião ministerial para este sábado.

“Trabalhamos para criar as bases de previdência social, salário mínimo, saneamento básico universal e um plano de moradias”, contou uma fonte oficial, sob anonimato.

“O clima social e o clima política não são bons na Tunísia”, admitiu o presidente Beji Caid Essebsi, apesar de acreditar que “podemos controlar os problemas”.

Para Essebsi, a imprensa estrangeira “amplificou” os distúrbios.

– Desemprego e desigualdades sociais –

A revolução, ponto de partida da Primavera Árabe, começou em 17 de dezembro de 2010, em Sidi Buzid, cidade do interior, quando o vendedor ambulante Mohamed Buazizi ateou fogo em si mesmo.

Um movimento de protesto contra o desemprego e o custo de vida veio em seguida, marcado por confrontos violentos que se espalharam por todo o país.

Sob pressão popular, o presidente Zine El Abidine Ben Ali, no poder há 23 anos, fugiu para a Arábia Saudita em 14 de janeiro de 2011.

Apesar de a Tunísia, o único país que sobreviveu à Primavera Árabe, ter conseguido avançar em sua transição democrática, ela continua presa a um marasmo econômico e social.

“Os anos se passaram e os cidadãos continuam privados dos direitos pelos quais se mobilizaram”, considera uma ONG tunisiana, o Fórum Tunisiano para os Direitos Econômicos e Sociais (FTDES), em um informe recente.

O país manteve “o mesmo modelo econômico, com os mesmo problemas” de antes da revolução, lamenta o presidente do FTDES, Messaud Romdhani.

Apesar dos avanços democráticos, “o desemprego, a miséria e as desigualdades sociais e regionais se agravaram”, alertou a ONG.

A economia tunisiana se viu duramente abalada pela instabilidade que veio após a revolução, e o turismo, um setor-chave, foi alvo de atentados extremistas em 2015.

O Estado, em dificuldades financeiras, recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que lhe concedeu, em 2016, 2,4 bilhões de euros em créditos, ao longo de quatro anos, com a condição de melhorar os déficits orçamentário e comercial.

A taxa de crescimento deve superar os 2% em 2017, mas o desemprego dos jovens continua muito alto, mais de 35%, segundo a Organização Internacional do Trabalho.

O índice de escolaridade recuou 96%. A cada ano, desde 2011, 10 mil crianças abandonam a escola primária e 100 mil jovens o ensino médio sem se formar, indica o FTDES.

– ‘Leva tempo’ –

Um dos sinais do descontentamento crescente é a alta da imigração clandestina, que registrou seu máximo desde 2011.

De segunda-feira a quinta-feira, os manifestantes, em sua maioria muito jovens, lançaram pedras e coquetéis Molotov nas forças de segurança, que responderam com gases lacrimogêneos. Um manifestante morreu em Teburba.

Na sexta-feira, centenas de pessoas se manifestaram calmamente em Túnis e Sfax (centro) contra as medidas de austeridade, com cartões amarelos em advertência ao governo, a pedido do movimento “Fech Nestannew” (“O que estamos esperando?”), que convocou os protestos contra a alto de preços.

Mas a Tunísia continua a lutar para construir sua democracia.

As primeiras eleições municipais após a revolução, adiadas várias vezes e muito esperadas para consolidar a transição democrática, estão previstas para maio.

As eleições legislativas e presidenciais serão celebradas em 2019.

Para Lamlum, “o potencial de resistência continua aí, a Tunísia que sonhamos continua sendo impulsionada por jovens ativos, mas isso leva tempo”.