Bastaram sete dias de greve nos Correios para que mais de 20 milhões de correspondências se acumulassem apenas nas agências de São Paulo. No segundo dia, a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) foi obrigada a suspender as entregas rápidas como o Sedex Hoje, Sedex 10 e o Disque Coleta. No terceiro dia, passou a contratar terceiros para driblar a ausência dos grevistas.

Foi o que ocorreu no Ceará. A diretoria regional contratou 91 pessoas para fazer a triagem e entrega de correspondências em Fortaleza e no interior do estado. Uma medida considerada ilegal pelos grevistas, afinal, a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (Fentect) alardeava adesão de 90% dos funcionários na área operacional. Dados bem diferentes dos divulgados pela empresa, que garantiu que todas as 12,3 mil agências estavam funcionando normalmente e que o transporte de cargas ? que movimenta 3,3 mil toneladas por dia ? não tinha sido atingido. Os Correios, contudo, admitiram que a greve afetou parcialmente o setor de distribuição, pois 16,96% dos funcionários estariam parados. Até quinta-feira, 20, a paralisação persistia.

Quando não há greve, os Correios entregam 8,6 bilhões de objetos ao ano, o que dá uma média de 32 milhões de objetos por dia. No setor de atendimento, funcionam 12.343 agências, 25.379 caixas de coletas, 443 mil caixas postais comunitárias, 10.680 postos de vendas de produtos e uma agência virtual na internet. Os Correios possuem 56 centros de tratamento e 829 centros de distribuição domiciliária, onde trabalham 52 mil carteiros, com o apoio de 14.645 motos, 22.775 bicicletas e 5.135 vans. Por tudo isso, a empresa orgulha-se de estar presente em 5.560 municípios e de ter 1.128 distritos administrativos. Os números são grandiosos. No entanto, onde enfrentam concorrência, como no caso das remessas expressas, os Correios ficam a desejar. Recentemente não tinha sequer caixa de Sedex para os clientes. Para piorar, a empresa é vulnerável ao corporativismo.

É a terceira vez, em cinco anos, que os Correios param devido a greves. E deixam no ar a dúvida: não estaria na hora de rever o monopólio dos Correios em serviços tão importantes para a população? O ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Milton de Moura França, foi claro ao dar um ultimato aos empregados e à empresa na sessão de conciliação: ?Não entro no mérito sobre se são justas ou não as alegações de ambos, mas a situação tem reflexos na sociedade, e é de interesse coletivo?, avisou. No dia seguinte, antes mesmo de Moura França avaliar a legalidade da greve, sindicato e governo entraram em acordo. Boa notícia para os consumidores, pois os Procons já tinham avisado que as contas deveriam ser pagas em dia, sob pena de multa, mesmo se a entrega da cobrança atrasasse. A Federação Brasileira dos Bancos também foi rápida: em nota explicou que os bancos são apenas intermediários e que cobrariam multa por atraso. Mas nem todo mundo teve problemas. A Eletropaulo, por exemplo, terceiriza a entrega da fatura de seus 5,6 milhões de clientes. A Sabesp, também prestadora da região metropolitana de São Paulo, informou que na capital paulista os funcionários fazem a leitura da conta na hora da entrega ao cliente. E a empresa Rpost viu na greve uma oportunidade de negócios, passou a vender as excelências de seu produto: o e-mail registrado.