Para quem não sabe a diferença entre arrumar e organizar, a personal organizer Sheila Soares tem uma definição na ponta língua: “Arrumar é simplesmente visual, sem funcionalidade.Organizar é colocar cada coisa em seu lugar certo”. Segundo ela, mesmo que na correria do dia a dia seja inevitável bagunçar um pouco os ambientes, é mais fácil colocar de volta o que está organizado. Formada em psicologia, ela se especializou em organização pós-mundança em 2017, após concluir um curso no Senac.

Como Sheila, vários profissionais de organização — os POs — estão trabalhando bem mais nos últimos meses. Com as pessoas trabalhando em casa e com número maior de tarefas domésticas a cumprir, veio a necessidade de buscar soluções de organização, fazendo disparar a busca pelo trabalho de otimização doméstica.

Ainda não há levantamentos oficiais sobre o número de profissionais de organização no País, mas tendo como base o maior evento do setor na América Latina, o congresso Personal Organizer Brasil, mais de 8 mil POs já passaram pelas sete edições do evento. “Acredito que hoje aproximadamente 2 mil profissionais exerçam exclusivamente a atividade”, disse José Luiz Cunha, criador do evento e fundador da OZ!, escola pioneira no Brasil de treinamento para POs. Se a pandemia fez aumentar a demanda, os primeiros meses desse período foram desoladores, com a necessidade do distanciamento social. E muitos profissionais adotaram, temporariamente, a consultoria on-line para continuar a trabalhar. Desde julho, as atividades presenciais foram retomadas e as agendas dos POs ficaram lotadas. No caso de Sheila, que vive e trabalha no Rio de Janeiro e mantém um perfil no Instagram (@possivelpravoce), a procura pelo serviço de organização pós-mudança passou a chegar, também, de clientes de São Paulo. “O mercado imobiliário teve uma baixa nos preços e muita gente aproveitou para comprar um imóvel ou mesmo economizar com aluguéis mais baixos”, afirmou.

A FORÇA DAS REDES O movimento crescente no mercado de organização pessoal é, porém, anterior ao período da pandemia. A figura do personal organizer ganhou força com o sucesso de vídeos com dicas de arrumação no Youtube, posts no Instagram e, mais recentemente, séries como Ordem na Casa com Marie Kondo, na Netflix. Nesse cenário, saiu na frente quem soube divulgar, com qualidade, seu trabalho nas redes sociais. “Mais do que encontrar armários e ambientes arrumados, quem busca profissionais nas mídias sociais encontra também perfis de lojas com produtos inovadores para organização”, disse a consultora Liliane Ferrari, marketing expert oficial da plataforma Pinterest no Brasil. “Os posts também trazem testemunhos de clientes sobre a transformação que a contratação do personal organizer trouxe ao dia a dia dos clientes, o que facilitou ainda mais a escolha.”

Saindo do ambiente doméstico, o mercado corporativo deve sentir ainda mais as consequências dos deslocamentos e mudanças de hábito provocadas pelo chamado novo normal. E a demanda por alterações e otimização de espaços nas empresas deve abrir o mercado de serviços de organização, em nichos cada vez mais específicos. No setor imobiliário, um dos segmentos que começa a despontar no Brasil é o de home staging, bastante popular nos Estados Unidos. Ele consiste em atualizar o aspecto de um imóvel especialmente para a venda, para torná-lo mais atraente ao comprador. “No mercado americano, os clientes buscam o imóvel ideal, já mobiliado, para entrarem e viverem em suas casas”, afirmou Cintia Covre, da Otimiza Design, há 11 anos no mercado. “No Brasil os compradores adquirem casas e apartamentos considerando fazer benfeitorias e reformas, por isso nosso trabalho é focar na bagunça fixa, despoluindo o ambiente”. O projeto inclui toda a consultoria para arrumação de camas, indicação de dobras para que as roupas não fiquem visíveis, disposição estratégica de almofadas e orientações sobre como não deixar nada fora do lugar. Cada vez mais especializada, a atuação dos personal organizers vai desde a catalogação de documentos e fotos até os preparativos da casa com tudo o que envolve a chegada de um bebê. Já a organização pós-luto não necessariamente está ligada ao levantamento de roupas, doações, documentos e inventários, mas também à reestruturação de espaços físicos durante um período delicado emocionalmente, como divórcio, saída dos filhos de casa, desemprego ou perda de propriedade.

MUDANÇA DE FATO Especializada em organização pós-mudança, Sheila Soares passou a se dividir entre Rio e São Paulo para atender a alta demanda. (Crédito:Claudio Gatti )

Trata-se de um mercado promissor e longe de setornar saturado, dada a capacidade de segmentação do setor e o poder de adaptação e criatividade do brasileiro. Quando o assunto é remuneração, os dados são imprecisos. Além do tempo de experiência, os rendimentos dependem, também, do nível de envolvimento da profissional — se a atividade é exclusiva ou secundária —, se trabalha em equipe ou individualmente, se cobra por hora ou por projeto. “Há POs que trabalham pra uma clientela muito mais exigente e disposta a pagar pelo serviço”, afirmou José Luiz Cunha. “Esse número pode variar muito, mas épossível dizer que se ela trabalhar 100% do tempo, pode tranquilamente receber entre R$ 10 mil e R$ 12 mil por mês.