Fred Flintstones viveu na Idade da Pedra. Mas em pleno século 21, seu Dino-guindaste continua ajudando a levantar a audiência das manhãs do Cartoon Networks. O mais assistido canal de desenhos animados do planeta, com quase 14 milhões de assinantes, completa dez anos em 2003. Já seria uma data e tanto para apagar as velinhas. Afinal, quem imaginaria que um canal que vive 24 horas por dia só de desenhos chegaria à adolescência? Mas, neste momento, a comemoração tem gosto ainda mais doce. Enquanto a rede que dá vida a 2 mil personagens ? gente como Johny Bravo, Pokémon, Dexter, Zé Colméia e o trio Docinho, Florzinha e Lindinha ? não fechou um ano sem multiplicar suas receitas, a concorrência faz as contas para tentar sobreviver mais alguns meses. Os problemas do setor amontoam-se: fraca penetração de tevê a cabo no Brasil (e, pela primeira vez na história, queda de 1,1% dos assinantes), custo elevado de programação ? e pior, em dólares ? e uma disputa acirrada pela verba publicitária. Com tudo isso, a indústria deve fechar o ano, em média, 16% mais pobre.

?Foi um período muito difícil para a tevê a cabo na América Latina?, admite Barry Koch, vice-presidente da companhia para a região. ?Mas a Cartoon vai apresentar crescimento em 2002.? A rede não fornece dados, mas alguns indícios desta movimentação são claros. Os resultados de publicidade do Cartoon cresceram 55% no Brasil em comparação a 2001 ? enquanto os demais canais registraram uma média de 5% de aumento. E mais: desde que chegou ao País, em 1996, o canal aparece no topo da lista dos mais assistidos. Tem 27,6% da audiência de menores entre 4 e 17 anos ? contra 18,7% de seu concorrente mais próximo. Como explicar o sucesso da Cartoon? ?Em momentos difíceis, os anunciantes e parceiros acabam apostando num porto seguro?, explica o executivo. E não se trata de mera figura de linguagem. Por trás do canal está ninguém menos que o magnata Ted Turner. O canal foi o último a ser incorporado pela Turner Broadcasting System, a maior distribuidora de programação no mundo.

Além de agradar aos bolsos de Ted Turner e fazer bonito com os anunciantes, a companhia tem ibope junto ao seu público. De todas as idades. Uma pesquisa conduzida pela Nielsen nos Estados Unidos detectou que 44% do público é adulto. No Brasil, é o sétimo canal mais assistido também por adultos, com 9,1% de alcance. Basta assistir uma vez à programação do Cartoon para entender o porquê. É impossível resistir a animações como Flintstones, Jetsons e Pernalonga. Fazendo essa mistura entre o antigo e o novo, a rede consegue ainda equilibrar seu caixa. Afinal, a retransmissão de programas antigos tem custo imensamente menor do que a de novos. Até agora, o foco principal da empresa foi em tevê a cabo. Mas, aos poucos, o negócio está mudando. Grande parte dos esforços hoje é devotado ao site do canal, onde as crianças podem jogar on-line, conseguir informações sobre seus personagens preferidos e votar pelos desenhos que querem ver nas telinhas no sábado seguinte. ?Queremos aumentar a interação com nosso público?, explica o executivo. O outro foco da companhia é coisa de adulto: o setor de licenciamento. Fora dos Estados Unidos, o Brasil é o primeiro país em venda de produtos com a marca Cartoon. ?Estamos indo muito bem este ano?, confirma Koch. E por que não dizer nesta década?