No momento em que o governador João Doria (PSDB), cotado como presidenciável tucano, acirra o antagonismo com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e lidera o bloco de governadores de oposição, a cúpula do PSDB é pressionada internamente a subir o tom na oposição ao Palácio do Planalto e reforçar o distanciamento com o ex-deputado federal Rogério Marinho (PSDB), que assumiu o cargo de ministro do Desenvolvimento Regional.

Embora tenha se licenciado do partido, Rogério Marinho ainda é muito identificado com o PSDB e comanda politicamente o diretório no Rio Grande do Norte.

A bancada tucana está alinhada com a pauta econômica de Bolsonaro, mas há desconforto entre líderes da legenda em relação à falta de posicionamentos mais duros diante de declarações polêmicas e ações do presidente. Em conversas reservadas, quadros históricos do PSDB cobram que o partido reforce que Marinho é parte da cota pessoal do presidente.

Ciro cobra reação de eleitores contra vídeo em que Bolsonaro convoca para ato

“Existe uma série de temas que são muito caros ao eleitorado do PSDB que estão sendo agredidos pelo governo: meio ambiente, cultura, educação, direitos humanos. Não vejo no plano nacional uma manifestação a altura da gravidade dos temas”, disse ao Estado o ex-senador e ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira. O presidente do diretório paulista do PSDB, Marco Vinholi, segue na mesma linha. “O PSDB deixou claro sua independência em relação ao governo desde o primeiro dia. Não compactuamos com extremismos, que se tornam cada vez mais comuns na pauta governista”, disse Vinholi.

Ele e Aloysio participaram na semana passada de uma palestra na capital paulista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na qual o tucano defendeu ações mais efetivas na redes sociais. Ativo nas redes, FHC, que defendeu os governadores e criticou Bolsonaro, é um dos defensores da tese de que o PSDB deve ir para a ofensiva e deixar a era “analógica”.

Segundo um levantamento inédito de popularidade digital da agência Quaest Consultoria revelado pela Coluna do Estadão, o PSDB está mal colocado no ranking partidário das redes sociais. Entre as 16 principais legendas, o PSDB aparece em 5.°, atrás de PT, Novo, PSL e PSOL. O PT é o primeiro da lista, seguido do Novo, PSL, PSOL e PSDB.

Estratégia

O desempenho do partido nas redes sociais levou o presidente nacional do partido, o ex-deputado federal Bruno Araújo, a se reunir com Doria e com Vinholi para avaliar uma “reviravolta” nas redes sociais do PSDB.

A legenda têm adotado desde o começo do ano um tom mais informal e polêmico, mas a estratégia ainda não deu o resultado esperado. A mudança é tida como estratégica para as eleições municipais, cada vez mais digitais, e um teste para a disputa presidencial de 2022.

Araújo tem recebido telefonemas de filiados buscando entender a guinada.

O jornalista e filósofo mineiro Fabiano Lana e o cientista político pernambucano Vitor Diniz, que ficam em Brasília, foram escalados para liderar uma equipe de redes sociais para tentar impulsionar o partido em temas polêmicos.

Exemplo

Um ‘case’ de sucesso de nova fase foi a provocação à cineasta Petra Costa, por sua indicação ao Oscar na categoria Documentário, que se tornou campeã de audiência.

No dia, o PSDB usou o Twitter para “parabenizá-la na categoria melhor ficção e fantasia”.

O presidente Jair Bolsonaro, a atriz Regina Duarte e Lula também se tornaram alvos.

O próximo passo da sigla será elaborar um documento para uniformizar e nacionalizar a linguagem e os posicionamentos do partido nas redes sociais nas campanhas municipais.

A base será um texto aprovado no último congresso tucano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.