A recuperação da economia no início deste ano está atraindo os investidores internacionais. É possível perceber isso pela variação do Índice Bovespa, que subiu 7,7% no ano, até a quinta-feira 4. Porém, o interesse vai além da Bolsa. A melhoria dos prognósticos trouxe de volta velhos conhecidos que andavam distantes: os compradores de renda fixa privada brasileira, emitida no exterior. Tradicionais aficionados por papéis de bancos e empresas, eles se afastaram do mercado em 2015. Agora, as boas remunerações pagas aos investidores aguçam o apetite desses tubarões das finanças pelos títulos, conhecidos como bonds ou notes.

BTG Pactual: Os títulos do banco, que possui cerca de US$ 800 milhões em bonds no exterior, são os mais que têm a maior liquidez entre seus pares
BTG Pactual: Os títulos do banco, que possui cerca de US$ 800 milhões em bonds no exterior, são os mais que têm a maior liquidez entre seus pares (Crédito:Divulgação)

DINHEIRO conversou com gestores suíços e americanos especialistas nesse mercado, e todos confirmam a fome de Brasil. “Os bancos menores pagam juros 2% a 3% superiores aos dos bancos grandes, e, como os últimos lançamentos ocorreram em 2014, o mercado secundário está agitado”, diz Patrik Kauffmann, gerente de carteira de renda fixa da suíça Solitaire, que administra US$ 11 bilhões em ativos. Essa remuneração é, em média, 4,7% superior à dos bancos americanos com o mesmo perfil de risco. Segundo Kauffmann, a crise econômica de 2015 fez muitos investidores venderem seus títulos, temerosos da inadimplência.

David Tawil, presidente do Fundo de Hedge Maglan Capital: “Assumir mais risco em renda fixa se tornou uma necessidade para os fundos gerarem retornos.”
David Tawil, presidente do Fundo de Hedge Maglan Capital: “Assumir mais risco em renda fixa se tornou uma necessidade para os fundos gerarem retornos.”

“O calote não veio, e agora o preço dos títulos está aumentando desde o ano passado”, diz ele. Mesmo assim, o gestor diz acreditar que ainda há oportunidades para o investidor brasileiro, especialmente o que está aproveitando a nova chance de repatriar seus dólares. O interesse por esses títulos cresceu, apesar da alta recente dos juros no mercado americano. Segundo David Tawil, presidente do fundo de hedge Maglan Capital, que investe em ativos de risco, um bônus de um banco gringo paga 2% ao ano, em média. “Mesmo com os bons retornos em Wall Street neste ano, assumir mais risco em renda fixa se tornou uma necessidade para os fundos gerarem retornos”, diz Tawil.

Entre as instituições financeiras que lideraram a corrida por parte dos investidores no exterior, ele destaca o Banco Mercantil do Brasil, o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), o Bonsucesso e o BMG (veja quadroao final da reportagem). A ausência de emissores no mercado contribuiu para aguçar o apetite dos gestores. Para Carlos Gribel, chefe da renda fixa no banco de investimentos Andbank Brokerage, em Miami, como os grandes bancos brasileiros também não emitem títulos de dívida desde 2015, os investidores se voltaram para as instituições financeiras brasileiras de pequeno e médio porte.

“Além do BMG e do Mercantil do Brasil, a principal aposta é nos papéis do BTG Pactual, que são os mais negociados entre os bancos médios brasileiros”, diz Gribel. Qualquer investidor, brasileiro inclusive, pode comprar esses papéis, apesar de eles não serem investimentos muito acessíveis. O valor mínimo de aplicação é de US$ 100 mil (R$ 318 mil), mais taxas de corretagem. O preço pode variar todos os dias, embora os movimentos sejam menos bruscos que os das ações. E uma recomendação para o investidor individual é comprar os títulos pensando em esperar seu vencimento.

Carlos Peixoto, Chief Investment Officer da Investbrain: “O apetite dos investidores por títulos que pagam juros de 7% a 7,5% ao ano seria muito grande.”
Carlos Peixoto, Chief Investment Officer da Brainvest: “O apetite dos investidores por títulos que pagam juros de 7% a 7,5% ao ano seria muito grande.”

Como a liquidez é baixa, quem tiver de vender o papel poderá ter de conceder um desconto ao comprador, corroendo a rentabilidade. Ainda é um bom negócio? A alta começou em 2016 e boa parte dos ganhos já foi capturada, avalia Carlos Ribeiro Peixoto, Chief Investment Officer (CIO) da suíça Brainvest. Em junho do ano passado, os ganhos médios eram de 11,5% ao ano, mas esse percentual encolheu para 6,7% ao ano em média, diz ele. Esses títulos são negociados a 108% do valor de face, mas, mesmo assim, é uma taxa compatível com a de um papel brasileiro indexado à inflação.

Segundo um gestor de um grande banco de investimentos brasileiro, esses títulos são uma boa opção para quem já tem recursos no exterior, diante de um cenário de taxas perto de zero nos mercados mais maduros. “Papéis de empresas de baixo risco, como os bancos ABC e BMG, que rendem mais de 4% ao ano e pagam juros semestralmente, são um bom negócio”, diz ele. Outra vantagem são os prazos curtos – a maioria desses papéis vence até 2021. “São bons ativos para ter na carteira porque, além dos juros semestrais, no vencimento do título a correção é de, em média, 8%.”

Quem conhece o mercado diz que novas emissões no exterior não estão nos planos por enquanto. “Os bancos têm emprestado menos nos últimos tempos, e o mercado brasileiro atende suas necessidades”, diz um banqueiro de investimentos. Porém, ele diz acreditar que isso pode mudar no segundo semestre. Peixoto, de Genebra, faz coro. “Não há nada no radar, mas o apetite dos investidores por títulos que pagam juros de 7% a 7,5% ao ano seria muito grande.”

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