O favorito na corrida democrata para as eleições presidenciais de 2020, Joe Biden, disse nesta quarta-feira (9) pela primeira vez que apoia o processo de impeachment contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, empenhado em combater a investigação parlamentar.

Donald Trump “pisa na Constituição”, disse Biden em um encontro em New Hampshire. “Para proteger nossa Constituição, nossa democracia, nossos princípios fundamentais, ele deve ser objeto de um processo de impeachment”.

Horas antes, Trump pediu para que seja revelada a identidade do denunciante que deu origem ao processo de impeachment contra ele, na tentativa de transformar a crise que ameaça sua Presidência em um impulso favorável à sua reeleição.

A tentativa de esmagar o impeachment começou na terça-feira, com um ousado desafio ao Congresso, na forma de uma carta de oito páginas. No texto, a Casa Branca anunciou à Câmara de Representantes, de maioria democrata, que não iria cooperar com a investigação, um processo que ele rotulou como ilegítimo.

Os democratas responderam, acusando Trump de obstruir a investigação.

“Ninguém está acima da lei, nem mesmo o presidente Trump”, disse quarta o líder da maioria democrata na Câmara, Steny Hoyer.

Trump agora exige que o informante que relatou a suposta pressão do presidente sobre seu colega ucraniano, Volodimir Zelenski, para investigar seu potencial rival democrata nas eleições de 2020 Joe Biden, seja exposto publicamente. Nos EUA, a identidade do informante é protegida por lei.

No Twitter, o magnata republicano bombardeia seus seguidores com teorias da conspiração sobre um “estado profundo” secreto que tenta derrubá-lo. Na mesma rede, Trump também alega que o denunciante demonstrou ser partidário e impreciso.

“Os dados do denunciante sobre minha conversa ‘sem pressão’ com o presidente ucraniano estão tão incorretos, e agora, o conflito de interesses e a relação com um candidato democrata, que ele ou ela deve ser exposto e interrogado”, escreveu Trump.

Trump também afirmou nesta quarta-feira que uma batalha com os democratas provavelmente será levada à Suprema Corte.

“Provavelmente acabará sendo um grande caso da Suprema Corte”, disse Trump, ressaltando que ele e seu Partido Republicano foram “muito mal tratados pelos democratas”.

– Impeachment entra na campanha –

Em outro tuíte, ele minimizou o processo de impeachment, como uma tentativa dos democratas de influenciarem a eleição. “Seu foco absoluto é 2020, nada mais”, disse.

Trump, que quebrou a tradição e iniciou sua campanha de reeleição quase desde que pôs os pés na Casa Branca em 2017, está pessoalmente encarregado de atacar o processo de impeachment contra ele como se fosse a pedra angular de sua campanha presidencial em 2020.

Tanto ele quanto o Partido Republicano fizeram uma campanha agressiva de arrecadação de fundos, alegando que a Câmara dos Representantes exerce tratamento injusto sobre eles.

Na próxima quinta e sexta-feiras, Trump levará a mesma mensagem diretamente a seus seguidores em eventos de campanha nos estados de Minnesota e Louisiana.

– Crise institucional –

Mesmo que a Câmara vote a favor de um impeachment de Trump, é improvável que o Senado, dominado pelos republicanos, o considere culpado no julgamento político subsequente, ao qual o presidente deve ser submetido de acordo com a Constituição.

“A boa notícia é que vamos ganhar!!!”, escreveu Trump em um de seus tuítes na manhã desta quarta-feira.

Sua obstinada recusa a aceitar a autoridade da Câmara Baixa para investigar seu suposto abuso de poder coloca os Poderes Executivo e Legislativo em risco de colisão frontal, porém, um choque que pode ter efeitos negativos na Constituição, ou até levar a uma completa crise constitucional.

“Este é um confronto histórico e, eu diria, uma luta pela alma da democracia americana”, disse Chris Edelson, professor da American University.

– Testemunha bloqueada –

Em meio à escalada diante dos democratas, na terça-feira, Trump impediu o embaixador dos EUA na União Europeia, Gordon Sondland, uma testemunha de potencial importância, de comparecer ao Congresso, que ele chamou de “tribunal de opereta totalmente parcial”.

Os democratas responderam com uma convocação obrigatória para Sondland testemunhar em 16 de outubro.

“Não apresentar essa testemunha, não apresentar esses documentos” constitui, de acordo com Adam Schiff, um dos três legisladores democratas que conduzem a investigação do julgamento político, “uma forte prova adicional de obstrução”.

Nesta sexta, os parlamentares querem ouvir uma outra testemunha importante: Marie Yovanovitch, ex-embaixadora dos EUA em Kiev, que deve comparecer ao Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes.

Segundo a imprensa americana, Trump a retirou de seu cargo, porque Marie disse ser contra os esforços de Trump para convencer a Ucrânia a investigar o ex-vice-presidente Joe Biden.