Um quer aumentar os impostos, o outro, reduzi-los. Um buscará aprofundar a guerra econômica com a China, o outro pretende aliviar as tensões. Nenhum deles, porém, fará muito sem o apoio do Congresso dos Estados Unidos.

Perto das eleições de 3 de novembro, as propostas de política econômica do presidente Donald Trump e seu adversário democrata Joe Biden oferecem visões diferentes sobre a maior economia do mundo.

A agenda de Biden tem foco nos americanos mais pobres e inclui uma série de medidas que implicariam em uma mudança abrupta com relação ao governo de Trump, com um retorno às políticas de Barack Obama, de quem foi vice-presidente.

Trump, por outro lado, oferece poucos detalhes de sua plataforma econômica, como lamentam os analistas, exceto por sua promessa de restaurar uma economia relativamente boa e bater o recorde de empregos até março, antes que a pandemia de coronavírus acabe com tudo.

“Diria que o plano de Biden é na verdade uma expansão dos programas sociais existentes”, disse John Ricco, analista sênior do Modelo de Orçamento Penn Wharton da Universidade da Pensilvânia. “Já o plano de Trump, na medida em que ele existe, aborda os mesmos temas que seu governo perseguiu nos últimos quatro anos”.

O quanto cada um vai conseguir o que deseja dependerá de quem controla o Congresso, atualmente dividido entre um Senado nas mãos de republicanos e uma Câmara de Representantes dominada por democratas.

As pesquisas mostram uma vantagem de Biden e vários candidatos democratas ao Senado, de modo que os analistas se inclinam, embora com cautela, a uma eventual vitória de Biden e de uma maioria de seu partido na câmara alta.

“Os democratas no controle da Câmara, do Senado e da Casa Branca produziriam uma das maiores mudanças de política, mas se os republicanos mantiverem a Casa Branca ou o Senado, esperamos poucas novas políticas federais, fiscais ou outras”, disse JP Morgan em uma nota.

– Campanhas opostas –

Biden promete criar empregos por meio de melhoras na infraestrutura e na energia limpa, financiadas com 4,1 trilhões de dólares em impostos sobre grandes empresas e os ricos. Trump, por sua vez, promete restaurar “a maior economia da história”, como qualifica o desempenho do país durante seu mandato até março.

As pesquisas mostram que os eleitores estão se inclinando para Biden enquanto o país luta contra a pandemia. Mas a campanha mudou na sexta-feira, quando Trump anunciou que havia contraído o coronavírus.

As plataformas econômicas dos dois parecem beneficiar setores diferentes, disseram Mark Zandi e Bernard Yaros, economistas da Moody’s Analytics.

As propostas de Biden visam os pobres e a classe média, que manteriam praticamente a mesma carga tributária, mas seriam beneficiados pelo aumento dos gastos públicos com educação, saúde, habitação e outras políticas sociais, segundo Zandi e Yaros.

Trump, entretanto, provavelmente cortaria mais impostos, o que beneficiaria muito “as famílias e empresas de alta renda, enquanto os gastos do governo com saúde e uma variedade de programas sociais serão reduzidos”, acrescentam.

Se os democratas conseguirem o controle da Casa Branca e do Congresso, a Moody’s prevê que o pleno emprego poderá retornar no segundo trimestre de 2022. E se os republicanos obtiverem esse controle, isso ocorrerá apenas no início de 2024.

Os analistas, porém, estimam que nenhum partido provavelmente conquistará o controle de ambos os poderes, de modo que o país voltaria ao pleno emprego em 2023.