O presidente americano, Donald Trump, informou que anunciará hoje à tarde sua decisão a respeito da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, tratado em que os países determinam voluntariamente suas metas de redução na emissão de poluentes na atmosfera.

Firmado em 2015, após mais de dez anos de negociações infrutíferas para mitigar o efeito da atividade econômica no clima terrestre, o tratado foi assinado por 195 países e ratificado por 147, responsáveis por 80% das emissões –165 metas de redução já foram submetidas. Apenas Síria e Nicarágua ficaram fora.

Segundo maior emissor de gases depois da China, os Estados Unidos respondem por 18% do carbono lançado na atmosfera terrestre, ou 6,5 milhões de toneladas por ano. A saída americana tornaria ainda mais difíceis as metas do acordo, de reduzir o carbono na atmosfera de 69 biilhões de toneladas para 56 bilhões, e negociar metas futuras para manter, até 2100, o aquecimento global no nível tolerável, inferior a 2ºC.

A decisão americana poderá levar outros países a rever sua participação. Pelas metas submetidas, já é incerto que o nível tolerável seja atingido. Reduzirão as emissões do nível atual, que aqueceria o planeta 4,2ºC, para apenas 3,3 ºC, segundo análise do Climate Interactive. Sem os Estados Unidos, esse patamar poderá facilmente subir para acima de 3,5 ºC, ou mesmo 3,8 ºC.

As consequências para o clima da Terra poderão ser, de acordo com o consenso dos cientistas, catastróficas. Derretimento de geleiras, elevação do nível do mar, maior intensidade de eventos extremos como tempestades, enchentes, secas e furacões.

Estudo publicado na revista Nature estima, neste cenário, queda de 23% na renda média global até 2100, com aumento de desigualdade, graças sobretudo ao impacto na atividade agrícola e na produtividade. O Banco Mundial previu que, até 2030, mais de 100 milhões de pessoas podem voltar à pobreza se nada for feito para mitigar as mudanças climáticas.

Nos Estados Unidos, fração considerável da opinião pública e do Partido Republicano rejeita o consenso científico sobre o este impacto e não acredita que a atividade humana tenha qualquer interferência no clima do planeta e não aceita argumentos econômicos em favor da adoção de formas limpas de geração de energia.

A decisão de Trump deve ser influenciada por duas opiniões: a favor da saída do acordo, pelo estrategista-chefe Steve Bannon e pelo chefe da Agência de Proteção Ambiental (Scott Pruitt); e contra o acordo, por sua filha Ivana Trump e o secretário de Estado, Rex Tillerson.

Bannon se considera “anti-globalista” e despreza qualquer organismo internacional como Otan, FMI, Banco Mundial e o Painel Climático da ONU. Pruitt foi responsável pelo cancelamento, por decreto, das leis que limitavam a geração de energia por meio do carvão, adotadas no governo Barack Obama.

Como consequência, o governo americano rejeitou a meta de reduzir, até 2025, as emissões de gases a um nível entre 26% e 28% do que era emitido em 2005. De acordo com estudo do Rhodium Group, a queda ficaria entre 15% e 19%. O nível de redução atingido em 2017 já chega aos 15%.

O pretexto de Pruitt para desfazer as regulações do governo Obama e querer abandonar o Acordo de Paris é fazer reviver a indústria do carvão. O efeito tende a ser muito modesto, diz outro estudo do Rhodium Group. Mais de 49% na queda do consumo de carvão se deve à competição do gás natural e cerca de 26%, à queda na demanda, por causa de mudançås no mercado global, e 18% a outras fontes limpas de energia.

Mesmo com as medidas adotadas pelo governo Trump, o nível de empregos na indústria do carvão passaria, dos atuais 73 mil, para algo entre 64 mil e 94 mil, em 2025, bem abaixo dos 130 mil verificados em 2011, afirmam os autores do estudo, Trevor Houser, Jason Bordoff e Peter Marsters.

A energia solar, embora responsável por apenas 1,3%  da eletricidade americana, emprega 230 mil pessoas e tem crescido 20% ao ano, segundo a Solar Foundation. Só na Carolina do Norte, esse mercado foi de US$ 1 bilhão, em 2013, para US$ 3,8 bilhões, em 2016. A estimativa é que, até 2030, a geração de energia limpa movimentará ao menos US$ 6 trilhões no mundo. A China já destinou US$ 380 bilhões até 2020 para dominar tal mercado.