O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou nesta terça-feira (21) os “catastrofistas” que alertam para as sérias consequências das mudanças climáticas, em um discurso diante de líderes políticos, econômicos e outras personalidades no fórum de Davos, entre elas a ativista sueca Greta Thunberg.

“Temos que rejeitar os eternos catastrofistas e suas previsões apocalípticas”, disse Trump, poucas horas depois de Greta, que também está em Davos, denunciar que “nada tem sido feito” para combater o aquecimento global.

Trump acusou os “herdeiros dos insensatos videntes do passado” de se enganarem sobre a mudança climática, como já fizeram – segundo ele – quando previram décadas atrás a superpopulação do planeta, ou o fim do petróleo.

“Nunca deixaremos os socialistas radicais destruírem nossa economia”, afirmou, em uma possível referência a seus rivais democratas na eleição presidencial americana, em novembro.

Já a ativista sueca intimou a elite econômica e política reunida esta semana em Davos e afirmou que, “na prática, não se fez nada” pelo clima, apesar da mobilização de jovens do mundo inteiro durante meses.

“Estamos todos lutando pelo clima e pelo meio ambiente, mas, se olharem de uma perspectiva geral, na prática, não se fez nada. Precisamos de muito mais do que isso”, afirmou Greta, na abertura do Fórum Econômico Mundial, lamentando que as “emissões de dióxido de carbono não tenham diminuído”.

O discurso de Trump se concentrou em destacar com números abundantes as conquistas econômicas durante sua Presidência.

Ele também destacou o aumento da produção de petróleo, gás e carvão, que “teve tanto êxito que os Estados Unidos não precisam mais importar energia de nações hostis”.

Em plena campanha para reeleição e a poucas horas da abertura de seu processo de impeachment em Washington, ele reafirmou sua política de “American First”, saudando a trégua assinada na semana passada na guerra comercial com a China.

“O tempo do ceticismo terminou, as empresas afluem novamente nos Estados Unidos”, insistiu.

O presidente americano deve ter conversas em Davos com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, bem como com o presidente iraquiano, Barham Salih. Este encontro acontece na sequência do assassinato no Iraque do poderoso general iraniano Qassem Soleimani, abatido pelas forças americanas.

Resta ver como os tomadores de decisão reunidos em Davos vão se posicionar em termos climáticos.

Em uma pesquisa recente da PwC realizada com quase 1.600 empresários, a mudança climática não está entre as dez principais ameaças à economia global em 2020, aparecendo apenas na 11ª posição.

E as ONGs presentes em Davos não estão esperançosas.

“Há um grande aumento de conscientização entre os grandes líderes econômicos, mas o desafio é traduzi-la para níveis mais baixos, dentro de grupos gigantescos” em cadeias produtivas complexas, disse à AFP o secretário-geral da organização ambiental WWF, Marco Lambertini.

De acordo com um relatório do Greenpeace publicado nesta terça-feira, dez bancos regularmente presentes em Davos financiaram entre 2015 e 2018 o setor de combustíveis fósseis com US$ 1 bilhão.

O próprio Fórum é, por vezes, acusado de hipocrisia climática por causa do balé de jatos privados, helicópteros e limusines.

Este ano, tenta dar o exemplo, proibindo utensílios plásticos de uso único, montando buffets sem carne, compensando as emissões de carbono, ou fornecendo conselhos sobre o combustível usado em aviões particulares.