Apesar da enxurrada de críticas a suas declarações em Helsinque e de suas confusas negativas no dia seguinte em Washington, Donald Trump insistiu novamente nesta quarta-feira sobre o “sucesso” de sua cúpula com Vladimir Putin, afirmando ser o presidente mais “firme” com a Rússia.

“Nenhum presidente foi tão firme quanto eu sobre a Rússia (…) E eu acho que o presidente Putin sabe melhor do que ninguém”, declarou o presidente americano após reunião com membros-chave de seu governo na Casa Branca.

Mais cedo, esta manhã, recorreu ao Twitter para reforçar sua posição. “Muitas pessoas de alto nível da inteligência amaram meu desempenho na coletiva de imprensa em Helsinque”, escreveu.

“Nós nos demos muito bem, o que realmente perturbou muitas pessoas cheias de ódio que queriam ver uma luta de boxe”, acrescentou, reforçando a sensação de que sua tentativa de contornar o escândalo na véspera fora imposta por seus assessores.

Diante do clamor, o inquilino da Casa Branca tentou, na terça-feira, limitar os danos, garantindo – sem realmente convencer – que havia se expressado mal quando pareceu tomar partido do homem forte do Kremlin durante a coletiva de imprensa conjunta.

Paradoxal para um presidente americano: ele foi forçado a dizer explicitamente que aceitava as conclusões dos serviços de inteligência americanos de que a Rússia interferiu na eleição de 2016.

“Alguns DETESTAM o fato de que eu me dei bem com o presidente Putin da Rússia”, tuitou nesta quarta-feira. “Eles preferem ir à guerra do que ver isso”.

Com exceção do senador Rand Paul, poucos republicanos defenderam abertamente o desempenho do presidente na cúpula de Helsinque, a primeira reunião bilateral entre o 45º presidente dos Estados Unidos e o presidente russo.

Nos dias que antecederam sua etapa finlandesa, em Bruxelas ou Londres, Trump lançou acusações contra a Alemanha, a União Europeia e o Reino Unido.

Sua turnê provocou uma avalanche de comentários negativos de vários políticos e especialistas em geopolítica, variando de “surrealista”, “traidor”, “embaraçoso”, “indefensável” a “impensada”.

– Relações com a Otan –

Em uma entrevista à Fox News, Trump colocou mais fogo nas relações com os aliados da Otan, já tensionadas durante a cúpula em Bruxelas.

O presidente americano pareceu questionar o princípio de defesa mútua, a base da Aliança Atlântica.

“Se, por exemplo, Montenegro é atacado, por qual razão meu filho deveria ir a Montenegro para defendê-los?”, questionou o jornalista.

“Eu entendo o que você diz, faço a mesma pergunta”, respondeu Trump. “Montenegro é um pequeno país com pessoas muito fortes (…) muito agressivas”, acrescentou.

O artigo 5 do Tratado da Otan estipula que todo ataque contra um país membro é considerado um ataque contra todos.

A Rússia, que elogiou a cúpula de Helsinque como um grande sucesso, lamentou, por sua vez, a prisão nos Estados Unidos de Maria Boutina, uma russa acusada de tentar influenciar secretamente organizações políticas americanas em benefício da Rússia.

“Isso aconteceu com o objetivo claro de minimizar o efeito positivo” da cúpula entre os dois dirigentes, realizada segunda-feira em Helsinque, afirmou a porta-voz do Ministério russo das Relações Exteriores, Maria Zakharova, em entrevista coletiva nesta quarta.

“Isso dá a impressão de que alguém, com seu relógio e sua calculadora, calculou não apenas a data, mas o horário, para que essa história apareça ao máximo”, disse ela, acrescentando que “parece que o FBI obedece abertamente a uma ordem política”.