O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumentou, nesta quarta-feira (29), seus ataques contra seu ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, cujas confidências podem complicar os pedidos do republicano para receber o mais rápido possível a absolvição no processo de impeachment que enfrenta no Senado, sem a necessidade de convocação de novas testemunhas.

Numa postagem no Twitter durante a madrugada, Trump voltou a atacar Bolton, demitido por ele em setembro, afirmando que o ex-conselheiro lhe “implorou” para ter este trabalho, mas que cometeu “muitos erros de julgamento”.

“Foi demitido porque, francamente, se eu o escutasse, já estaríamos na Sexta Guerra Mundial, e sai e IMEDIATAMENTE escreve um livro desagradável e falso. Tudo confidencial de Segurança Nacional”, tuitou o presidente, minimizando o que Bolton tem para contar.

Pouco depois, a Casa Branca anunciou que o ex-assessor de Segurança Nacional não pode publicar o livro que escreveu, chamado “The Room Where it Happened” (“O recinto onde ocorreu”, em tradução livre), como foi apresentado pois ele contém informações restritas.

Numa carta dirigida ao advogado de Bolton, o Conselho Nacional de Segurança informou que proibição se deu após uma revisão preliminar do texto – processo adotado com qualquer funcionário da Casa Branca que escreva um livro – no qual foi constatado que ele contém “uma quantidade significativa de informação sigilosa”.

“Parte desta informação está no nível da máxima confidencialidade”, disse o NSC na missiva e acrescentou que “o manuscrito não pode ser publicado, nem divulgado sem a eliminação desta informação secreta”.

O texto de Bolton, conhecido por suas posições beligerantes, mina uma das principais linhas de defesa de Trump no julgamento político, depois de ser acusado pela Câmara de Representantes de abuso de poder e obstrução do Congresso.

Os democratas dizem que Trump reteve a ajuda militar à Ucrânia por dois meses em julho para pressionar o presidente ucraniano Volodimir Zelenski a iniciar uma investigação sobre Joe Biden – seu possível adversário nas eleições presidenciais de novembro – e seu filho Hunter, envolvendo ilegalmente a uma nação estrangeira na política eleitoral americana.

A divulgação de trechos do livro na noite de domingo, pelo The New York Times, teve o efeito de uma bomba, pois apontam para o principal motivo da acusação contra o presidente.

Numa das partes, Bolton relata que compartilhou com o secretário de Justiça, Bill Barr, sua preocupação de que Trump estava concedendo favores a líderes autoritários.

Também fortaleceu os democratas, que há semanas pedem para que o Senado convoque Bolton e funcionários do alto escalão da Casa Branca como testemunhas no julgamento, iniciativa que conta com forte oposição de Trump e seus partidários.

Bolton disse que está preparado para testemunhar se for convocado pelo Congresso.

– “Encerrar o caso”-

As possibilidades de Trump sofrer impeachment são praticamente impossíveis, já que o seu partido tem a maioria no Senado, com 53 votos representantes contra 47 dos democratas, sendo necessários dois terços (67 votos) para obter a vitória da acusação.

Porém, a menos de 300 dias das eleições presidenciais, o surgimento de informações embaraçosas contra o presidente pode dificultar sua caminhada em busca de um novo mandato.

No encerramento das alegações na terça-feira, a defesa do presidente pediu à câmara alta que absolvesse Trump “o mais rápido possível”.

“É hora de acabar com isso”, disse Pat Cipollone, conselheiro legal da Casa Branca e integrante da equipe de defesa do dirigente republicano.

Os 53 senadores do partido Republicano se uniram em torno de seu presidente, mas as revelações de John Bolton mudaram o cenário.

O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, admitiu na terça-feira que não tem votos suficientes neste momento para bloquear a demanda por testemunhas, que pode ser solicitada com a aprovação de maioria simples

Ao menos três republicanos moderados, Mitt Romney, Susan Collins e Lisa Murkowski, deram a entender que poderiam votar a favor do depoimento de Bolton.

– Batalha judicial –

“Lembrem-se, republicanos, os democratas já tiveram 17 testemunhas, não nos deram NENHUM!”, escreveu no Twitter nesta quarta Trump.

O senador republicano John Cornyn garantiu que era “inútil” convocar mais testemunhas.

Na espera por um pronunciamento sobre o assunto, os senadores, obrigados a acompanhar por oito dias os debates sem poder fazer qualquer intervenção, enfim farão perguntas nesta quarta e quinta-feira aos representantes da acusação e da defesa.

De acordo com as rígidas regras do Senado, as perguntas devem ser encaminhadas por escrito e serão lidas pelo presidente da Suprema Corte, John Roberts, que preside o julgamento do impeachment.

No julgamento político contra Bill Clinton iniciado em dezembro de 1998 por mentir sobre seu relacionamento com a então estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky, os senadores fizeram mais de 150 perguntas. O presidente democrata foi absolvido em fevereiro de 1999.