A Tropa de Choque da PM de São Paulo dispersou com bombas de gás e spray de pimenta um protesto de professores e funcionários da Universidade de São Paulo (USP) que, segundo participantes, contava inclusive com crianças.

Pelo menos mil pessoas protestavam contra a votação no Conselho Universitário do documento Parâmetros de Sustentabilidade Econômico-Financeira da USP, uma espécie de Lei de Responsabilidade Fiscal própria para limitar os gastos com a folha de pagamento na universidade.

Segundo Ivane Sousa, assessora de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores da USP, o texto, encaminhado pelo reitor, Marco Antonio Zago, prevê congelamento de salários, corte de benefícios, demissão de 5 mil funcionários – incluindo gente que está em regime de estabilidade -, além de outras medias como fechamento de creches e de restaurantes universitários.

A Associação dos Docentes (Adusp), o Sintusp e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) haviam convocado para esta terça-feira, 7, um dia de paralisação para que fosse possível protestar diante do Conselheiro Universitário. Eles se reuniram a partir do meio-dia e foram reprimidos pela PM por volta de 14 horas.

“A ideia era impedir a entrada dos conselheiros, barrar o documento, que foi enviado sem qualquer diálogo com a comunidade, sem nenhum esclarecimento de como esses cortes seriam feitos”, contou Ivane.

Segundo ela, a manifestação transcorria calmamente, quando a Tropa de Choque chegou. “Havia crianças no protesto, porque um dos pontos do texto é o fechamento de creches e já vem ocorrendo o sucateamento da Escola de Aplicação. As crianças estavam ali porque seus pais e professores também estavam”, diz.

Ivane relata ter visto uma professora de uma creche ser agredida pela polícia. “Ela viu as crianças no caminho da polícia e foi protegê-las. Ela foi espancada e presa e não conseguimos até agora saber onde ela está”, afirma. Ela estima que pelo menos outras cinco pessoas também foram presas. “Enquanto apanhamos e recebíamos bombas, os conselheiros entraram e estão neste momento apreciando a pauta apresentada por Zago.”

A Polícia Militar foi procurada pela reportagem, mas ainda não se manifestou. A reitoria da USP também foi procurada e disse que só deve se manifestar após o fim da reunião do Conselho Universitário.

Para entender

A proposta da reitoria é ter um teto de gastos de 85% das receitas recebidas do Tesouro Estadual com a folha salarial. A instituição terminou o ano de 2016 com 104,95% de comprometimento das receitas com salários. Segundo o projeto da reitoria, o limite prudencial é de 80%. Ao ultrapassar essa faixa, prevê a nova regra, o reitor ficaria impedido de fazer novas contratações, dar reajustes ou autorizar horas extras. Se chegar a 85%, fica o gestor obrigado a resolver o problema nos dois quadrimestres seguintes. O projeto do reitor Marco Antonio Zago também prevê que a proporção de professores deve ser de 40% do total de servidores da USP. Hoje, é de 28,7%. De 20,9 mil funcionários, 6 mil são docentes.