A confirmação no dia 18 de março de que Fausto Ribeiro será o novo presidente do Banco do Brasil não foi só a conclusão do breve processo de fritura de André Brandão, que apresentou sua renúncia à presidência naquela data. Também marca o começo de uma profunda reorientação estratégica do banco estatal. Assim que Ribeiro assumir o posto, vai começar uma troca de nomes no primeiro escalão e no Conselho de Administração.

Tudo deve ser definido na assembleia geral de acionistas marcada para 28 de abril. Brandão fica no cargo até quarta-feira (31). Até lá, o comitê de elegibilidade do BB terá de analisar se Fausto Ribeiro atende aos requisitos legais previstos na Lei das Estatais. Depois disso, será necessária a edição de um decreto presidencial com a sua nomeação para que ele assuma a presidência da instituição.

Ninguém comenta o assunto em público. Privadamente, conselheiros e diretores não hesitam em criticar a mudança. Ao contrário de Brandão, Ribeiro é funcionário de carreira do Banco do Brasil. Também ao contrário de Brandão, ele nunca havia ocupado cargos de primeiro escalão. Até assumir a presidência da área de consórcios do banco, só tinha ocupado cargos de gerência.

O incômodo do Conselho do BB ficou evidente na esteira das mudanças na Petrobras. Em uma reunião extraordinária realizada em 2 de março, quatro conselheiros do banco fizeram constar na ata seu apoio à gestão de Brandão, após “especulações veiculadas na imprensa sobre a possível e surpreendente substituição do presidente do Banco do Brasil ainda no início de seu mandato.”

MUDANÇA Fausto Ribeiro deve ser avaliado pelo comitê de elegibilidade do BB antes de assumir o comando do banco em abril. (Crédito:Divulgação)

A indicação de Ribeiro deve provocar uma debandada. O presidente do Conselho, Hélio Magalhães, que dirigiu o Citibank no Brasil, e o economista José Guimarães Monforte, um dos conselheiros independentes de maior prestígio do País, já disseram ao povo que não ficam. Os nomes de seus sucessores ainda não foram divulgados. Os conselheiros Luiz Serafim Spinola Santos e Paulo Roberto Evangelista de Lima, indicados por acionistas minoritários, devem permanecer. Quanto aos executivos, a expectativa é que pelo menos dois vice-presidentes deixem seus cargos. Esse número pode crescer, pois alguns vice-presidentes estão perto da aposentadoria e outros podem receber convites da iniciativa privada.

O motivo da saída vai além da mudança de nomes. Magalhães aceitou o convite para presidir o Conselho com o compromisso da equipe econômica de dar ao colegiado um perfil parecido com o da iniciativa privada, além de uma agenda liberal, que iria reduzir as atividades e o tamanho do BB, ainda na gestão de Rubem Novaes, antecessor de Brandão. No entanto, essa agenda nunca foi posta em prática. Para piorar, a interferência crescente de Jair Bolsonaro nas estatais eleva o risco de ingerência política que sempre assombrou o BB. O que custou o cargo a Brandão foi sua proposta de fechar agências e demitir funcionários, além da associação do banco de investimentos do BB com o suíço UBS e a proposta de privatização da BB DTVM, maior gestora de fundos do País. As ideias foram abatidas em vôo por Bolsonaro. E Brandão resolveu sair.

SEM PRIVATIZAÇÃO A chegada de Ribeiro deve provocar uma guinada na estratégia do banco. O indicado à presidência ainda não disse a que veio, mas quem conhece os bastidores de Brasília sabe que ele fará mudanças profundas na diretoria e que também deve cancelar qualquer proposta de privatização do BB, ainda que limitada a subsidiárias. Não se descarta sequer a hipótese de que a associação do banco de investimentos com o UBS seja revista no futuro.

Para os analistas de mercado, a troca por um nome mais alinhado com o governo federal indica que novas medidas para melhorar a eficiência do banco, se vierem, serão muito tímidas. Apesar de ter suas ações “descontadas” em relação aos outros bancos de varejo, os especialistas não vêem perspectivas de privatização. Desde o início do ano, quando começaram as especulações de que Brandão poderia ser trocado, as ações do banco vêm apresentando desempenho inferior ao da média do mercado, com queda de cerca de 22%, muito superior a uma desvalorização acumulada do Ibovespa que não chega a 5%.