A repercussão da troca de comando da Petrobras foi muito ruim no mercado internacional. Os American Depositary Receipts (ADR) da estatal estavam caindo 12% no pré-mercado em Nova York. A reação dos investidores no Exterior, que deve ser reproduzida no mercado brasileiro, é que a mudança traz uma indicação ruim para a governança da companhia.

Rememorando. No fim da tarde da segunda-feira (23), Adolfo Sachsida, novo ministro das Minas e Energia e homem de confiança do ministro Paulo Guedes, mandou avisar que a Petrobras trocaria – de novo – de presidente. Após apenas 40 dias no cargo, José Mauro Coelho seria sucedido por Caio Mario Paes de Andrade, atual secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia.

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Apesar de ter surpreendido muita gente, a mudança não era considerada improvável em Brasília. O comando da petrolífera é politicamente estratégico. Por isso sai Coelho, químico com doutorado ciência dos materiais, indicado pelo ex-ministro das Minas e Energia, o almirante Bento de Albuquerque. Entra Andrade, formado em comunicação social. Além das especializações em Harvard e empresário dos setores imobiliário e de TI, ele é diplomado com a confiança de Guedes. Sua indicação ainda precisa ser aprovada pelo Conselho de Administração da companhia, que deve se reunir nesta quarta-feira (25). A aprovação é certa, visto que o governo tem maioria, mas as discussões não deverão ser fáceis.

Andrade assume com uma missão para lá de impossível: resolver o descontentamento do presidente Jair Bolsonaro, que busca a reeleição e quer baratear os preços dos combustíveis para angariar votos. No entanto, a dificuldade de Andrade será a mesma enfrentada por José Mauro Coelho e, antes dele, pelos ex-presidentes Joaquim Silva e Luna e Roberto Castello Branco: a governança da estatal dificulta manipulações de preço.

A história parece antiga, mas data do governo de Michel Temer. Os escândalos da Petrobras, apelidados de Petrolão, quase derrubaram Luiz Inácio Lula da Silva e ajudara no impeachment de Dilma Rousseff. Temer alterou bastante o ambiente regulatório das empresas públicas, com a Lei das Estatais. O marco legal está em vigor desde 2016, e determina que quem comandar uma estatal terá de preencher requisitos bem determinados.

Segundo o artigo 17, o indicado ou indicada deve cumprir pelo menos uma de três pré-condições. Deve ter experiência profissional de, no mínimo, dez anos na área de atuação da empresa ou em “área conexa”. Deve ter quatro anos de experiência dirigindo empresa de porte semelhante à estatal (algo difícil, pois a Petrobras é a maior do Brasil) ou esse período em cargo público equivalente a DAS-4. Ou então deve ter quatro anos como profissional liberal em “atividade direta ou indiretamente vinculada” ao campo de atuação da companhia. O currículo de Andrade não mostra nada disso.

Para piorar, a troca poderá ser inócua. A alta dos combustíveis não tem uma solução simples no curto prazo. O petróleo está mais caro no mundo. E, para piorar, as estimativas são de que a defasagem dos preços da gasolina está em R$ 1,69 por litro. No caso do diese, essa defasagem está em R$ 0,38 por litro. São valores maiores que as defasagens corrigidas com o aumento de preços realizado em março, e que causou a demissão de Silva e Luna.

Um analisa de um banco internacional afirmou que qualquer tentativa de mudar essa regra seria desastrosa para a empresa. “Mudar a política de reajustes de preços para elevar a popularidade do governo seria desastroso para a Petrobras e para a própria economia brasileira”, disse ele. O analista acrescentou que alterar o plano de investimentos vai reduzir os dividendos e afugentar investidores. Algo comprovado pelos preços.