“É contra as liberdades”, afirmou Will Horspool nesta terça-feira, amargurado como muitos outros moradores de Leicester, que se tornou a primeira cidade do Reino Unido a retornar ao confinamento devido a um aumento nos casos de coronavírus.

O golpe é duro para a cidade, enquanto o resto da Inglaterra se prepara para reabrir bares, restaurantes, cinemas e cabeleireiros no sábado.

Em Leicester, entretanto, o movimento é o oposto: todas as lojas, exceto de alimentos e farmácias, tiveram que fechar as portas nesta terça-feira e a maioria das escolas fechará na quinta-feira.

Horspool, 35 anos, estava se preparando para retomar a normalidade neste fim de semana. “Eu queria tomar uma cerveja em um pub local”, diz. Agora, ele planeja ir a um café em uma cidade vizinha não afetada pelas novas medidas.

Confrontado com a decisão de reconfinar Leicester, que ele descreve como “autoritária”, prevê um retorno dos “bares clandestinos” que existiam durante a proibição.

“As pessoas não querem ser controladas”, argumenta.

Dharmesh Lakhani, gerente do restaurante Bobby’s, que emprega 20 pessoas, também estava se preparando para reabrir, com medidas preventivas: clientes a dois metros de distância, funcionários com máscaras e desinfetante para as mãos.

“Oito quilômetros ao norte, os restaurantes vão abrir, como eles vão impedir as pessoas de irem?”, pergunta, sugerindo que as novas medidas não impedirão a circulação do vírus.

Leicester, uma cidade com cerca de 340.000 habitantes, com uma população de mais de 600.000 na área urbana afetada pelo reconfinamento, foi responsável por cerca de 10% de todos os casos no país na semana passada.

Houve 944 casos locais confirmados de coronavírus nas últimas duas semanas, anunciou a prefeitura da cidade.

“As pessoas não estão fazendo o que deveriam, há muitas reuniões, vão às compras ou protestam”, diz Wendy Green, 56 anos, funcionária de um hospital que está se preparando para testar todos os seus funcionários.

A epidemia “continuará e depois passará para a próxima cidade e depois para outra e para toda a Inglaterra”, alerta.

Embora o ministro da Saúde, Matt Hancock, tenha pedido aos moradores da cidade que fiquem em casa “o maior tempo possível”, muitas pessoas percorrem o centro, onde longas filas se formam em frente às agências bancárias.

Os cartazes lembram à população sobre a necessidade de lavar bem as mãos e do distanciamento social.

– Medidas “dolorosas” –

Em entrevista coletiva, o prefeito Peter Soulsby disse estar “muito preocupado com o bem-estar da cidade em geral e com a saúde de seus habitantes, mas também com a economia”.

Embora as novas medidas sejam “dolorosas” para a população, existe uma “perspectiva realista de que elas serão eficazes”, disse.

Ele pediu mais informações para determinar a localização exata dos casos e saber “em quais bairros” e até “em quais ruas” o vírus atacou.

As razões para o recente aumento de casos em Leicester, mesmo entre crianças, permanecem incertas. O Sunday Times sugeriu surtos em fábricas de alimentos e multidões lotadas do lado de fora dos restaurantes que vendiam comida para viagem.

O anúncio do reconfinamento da cidade ocorre em um momento particularmente ruim para o primeiro-ministro Boris Johnson, que na terça-feira anunciou seu “new deal”, um grande plano de investimento público para reviver a economia britânica, deprimida pela pandemia e pela paralisação.

A oposição trabalhista o acusa de ter demorado a reagir ao surto de Leicester. O líder conservador já foi amplamente criticado por administrar a pandemia, que matou mais de 43.500 pessoas no Reino Unido, o país mais afetado da Europa.