Em dezembro de 2020, em um evento virtual, a BRF, dona das marcas Perdigão e Sadia, divulgou suas metas de crescimento para os próximos anos. O programa, chamado Visão 2030, é dividido em três etapas. O objetivo, ao final desse período, é alcançar R$ 100 bilhões em receita. É um salto e tanto. Afinal, fechou o ano passado com receita líquida de R$ 39,47 bilhões, crescimento de 18% em relação aos R$ 34,44 bilhões registrados em 2019. E fará isso investindo em infraestrutura e focando em áreas específicas da produção, como o mercado de refeições prontas e as rações para pets. Com essa visão estratégica de longo prazo, a BRF é a vencedora na categoria frigoríficos do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO 2021.

“Os últimos anos foram um período de ‘turnaround’, de estabilização da gestão. Adotamos uma série de estratégias para reduzir a alavancagem de seis para três vezes”, afirmou Lorival Luz, CEO da BRF. Esse processo foi concluído em um ano atípico como 2020, com a pandemia e o aumento no custo dos insumos. O milho usado na alimentação dos animais, por exemplo, praticamente dobrou de preço. “Tivemos sucesso. Feito isso, era hora de virar uma página e dar início a um plano de crescimento”, disse Luz.

A estratégia é priorizar os alimentos prontos e semiprontos, com maior valor agregado. Hoje, metade da receita vem desse segmento. O objetivo é chegar a 70%. “Olhamos muito para as mudanças nos hábitos de consumo das pessoas e ao estilo de vida. Se a pessoa não tem tempo para cozinhar, ela não precisa deixar de ter a experiência de comer uma comida gostosa”, afirmou Luz. A BRF lançou novas linhas de refeições premium, inaugurou sua primeira loja conceito Mercato Sadia, em São Paulo, no final do ano passado, e colocou no ar o e-commerce Mercato em Casa. A meta é chegar a dez unidades nos próximos meses, em regiões como Santo André e Barueri. Nessas lojas são oferecidos produtos prontos de marcas como Perdigão e Sadia. Fechou ainda uma parceria com o Magalu, com a promessa de entregas em até um dia útil. A operação começou em São Paulo com um portfólio de 100 produtos.

LORIVAL LUZ EMPRESA: BRF CARGO: CEO DESTAQUE DA GESTÃO: Definição do plano de crescimento até 2030, com nova operação de e-commerce, lojas físicas de produtos prontos e parcerias de logística. (Crédito:Divulgação)

A BRF também fez um investimento de US$ 2,5 milhões na startup israelense Aleph Farms, responsável por uma tecnologia de produção de carne em laboratório, a partir de células animais, que dispensa o abate. O aporte foi parte de uma rodada de captação de US$ 105 milhões para expandir e internacionalizar sua capacidade de produção.

No segmento de ração para pets, a BRF fez duas aquisições que somam cerca de R$ 1 bilhão. Primeiro, comprou a Hercosul, dona das marcas Biofresh e Three Dogs, que tem 20 anos de tradição no mercado de rações para cães e gatos. Na sequência, comprou a Mogiana Alimentos, cujo portfólio inclui marcas como Guabi Natural, na categoria superpremium, além da Cat Meal, Faro, Gran Plus e Herói. Com isso, a empresa abocanhou uma fatia de cerca de 10% do segmento de rações. O interesse faz todo o sentido. Em 2020, o mercado pet como um todo movimentou R$ 40 bilhões, impulsionado pela pandemia. “Já tínhamos uma atuação pequena em pet food, mas agora nos tornamos um player relevante no setor”, afirmou Luz.

O programa Visão 2030 contempla ainda investimentos em infraestrutura. Em agosto deste ano a BRF inaugurou a primeira fábrica dedicada à produção de salsichas. Localizada no município de Seropédica (RJ), a unidade tem capacidade inicial de 140 toneladas por dia — e pode chegar a 280 toneladas se houver demanda. Ampliações estão sendo feitas em outras plantas espalhadas no País. No Paraná, são R$ 292 milhões destinados às unidades de Carambeí, Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Paranaguá, Ponta Grossa e Toledo. No Rio Grande do Sul são outros R$ 171 milhões, começando com
R$ 51 milhões na planta de Marau, no norte do estado. “Temos uma programação em praticamente todas as regiões em que temos produção”, disse Luz. No total, estão previstos R$ 55 bilhões em investimentos até 2030.

“Os últimos anos foram um período de turnaroud, de estabilizar a gestão. Tivemos sucesso. Feito isso, era hora de começar nosso plano de crescimento” Lorival Luz, CEO da BRF.

E esses investimentos são acompanhados por metas ambientais agressivas. Até 2025, a empresa quer garantir a rastreabilidade de 100% dos grãos dos biomas da Amazônia e do Cerrado e trabalhar com embalagens 100% recicláveis, reutilizáveis ou biodegradáveis. A redução de 13% no consumo de água e o uso de energia limpa (a planta de Seropédica, por exemplo, tem painéis solares que fornecem 10% da energia consumida) estão na programação. E ainda dentro das iniciativas de ESG (boas práticas sociais, ambientais e de governança) há um investimento de R$ 400 milhões em ações de desenvolvimento das comunidades em que a companhia atua. “Tomamos uma decisão pela qualidade na prestação dos serviços. E temos uma avenida de crescimento muito clara”, disse Luz.