Por Hallie Gu e Naveen Thukral

PEQUIM/CINGAPURA (Reuters) – O uso de trigo para a alimentação de suínos e aves na China resultou em uma queda na demanda por rações alternativas e afetou as perspectivas de mercado para o farelo de soja e outros ingredientes utilizados pelo gigantesco setor de rações do país, disseram analistas e operadores.

Nos últimos meses, os produtores chineses de ração ampliaram de forma drástica as compras de trigo em substituição ao milho, cujos preços avançaram em mais de um terço no ano passado e atingiram um raro prêmio sobre o trigo, na esteira de quedas na produção e nos estoques.

O aumento no uso de trigo, que possui maior teor de proteína do que o milho, também reduziu a demanda por farelo de soja, principal fonte de proteína em rações, pressionando ainda mais as margens locais de processamento e gerando dúvidas sobre o apetite da China por soja justamente em momento em que os agricultores dos Estados Unidos se preparam para semear mais de 87 milhões de acres com a oleaginosa.

“A demanda por farelo de soja, em geral, está muito ruim. Está se recuperando, mas bem lentamente”, disse Zou Honglin, analista do site de comércio Myagric.com.

“Uma das razões é a peste suína africana, e outro fator-chave é a substituição em grande escala do milho pelo trigo na ração”, afirmou Zou.

A China deve utilizar até 40 milhões de toneladas de trigo para ração na safra 2020/21, que começou em junho, substituindo aproximadamente a mesma quantidade de milho e mais de 4 milhões de toneladas de farelo de soja, de acordo com duas fontes.

Os preços do milho na província de Shandong, uma importante área produtora de suínos do país, superam os do trigo desde outubro –atualmente, a diferença é de cerca de 17%.

“Já faria sentido, em termos de economia, utilizar o trigo (em substituição ao milho) com o preço do trigo de 50 iuanes a 100 iuanes acima do milho. Agora que o trigo está ainda mais barato que o milho, é claro que você substitui”, disse o gerente de compras de uma grande produtora de aves do norte da China.

A substituição em larga escala do milho pelo trigo diminuiu a proporção de farelo de soja nas rações para suínos e aves em torno de 2% a 7% ao redor do país, segundo analistas e processadores.

A pressão sobre o farelo ocorre em momento em que milhões de toneladas de soja provenientes do Brasil estão a caminho da China. O país asiático deverá receber mais de 7 milhões de toneladas da oleaginosa em abril, e cerca de 10 milhões de toneladas tanto em maio quanto em junho, disseram traders.

“Os processadores vão estar sob muita pressão nos próximos meses. Muita coisa depende de a demanda ganhar força”, afirmou Xie Huilan, analista da consultoria Cofeed.

Com os atuais preços, os esmagadores chineses perderiam de 50 iuanes a 200 iuanes para cada tonelada de soja processada nos próximos meses, de acordo com membros do setor e analistas.

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