A invasão russa à Ucrânia, anunciada na madrugada da quinta-feira (24), colocou o mundo e os investidores em polvorosa. A reação no mercado foi intensa e os ajustes nos preços, assim como a movimentação das tropas e dos refugiados, prosseguem. Sem exceção, todos os mercados foram afetados. As bolsas oscilaram violentamente. As cotações do petróleo dispararam, com o barril de óleo do tipo Brent, referencial para a Petrobras, superando US$ 110. No caso da B3, houve o agravante do carnaval, que deixou o pregão suspenso por dois dias enquanto os mercados internacionais seguiam em atividade. Seguindo um movimento de recuperação no exterior, o Ibovespa encerrou o primeiro pregão de março com uma alta de quase 2%, acima de 115 mil pontos e o dólar recuou cerca de 1%, para R$ 5,10. Passado o primeiro momento de ajuste nos mercados, os investidores se perguntam se é hora de alterar a estratégia de seus investimentos. Os especialistas consultados por DINHEIRO são unânimes: é hora de ter cautela e evitar os riscos.

O início do ano vinha sendo animador para o Ibovespa. A alta dos preços do petróleo e do minério de ferro favoreceram as ações da Petrobras e da Vale. A entrada de investidores estrangeiros sustentou as cotações e fez o dólar recuar para R$ 5. Porém, isso mudou com a guerra. As sanções econômicas impostas à Rússia elevaram a incerteza. Além disso, a inflação global pode acentuar a esperada alta de juros nos Estados Unidos para conter os preços por lá. A inflação está em 7,5% ao ano, a mais alta desde 1982. “A guerra acelerou o processo inflacionário global, pois os preços do petróleo atingiram o maior patamar em dez anos”, afirmou o CEO da startup financeira Top Gain, Alison Correia. A Petrobras terá de repassar o aumento, pressionando ainda mais a inflação.

INFLAÇÃO GLOBAL Para Alison Correia, CEO da Top Gain, a guerra acelerou o processo inflacionário mundial, que deve piorar com os preços do petróleo atingindo o maior patamar em dez anos. (Crédito:Divulgação)

OPÇÃO SEGURA O movimento quase instintivo dos investidores de buscar ativos de menor risco é uma boa alternativa, devido à incógnita do tempo de duração do conflito e de seu impacto sobre a economia. Porém, sem afobação. Para o chefe de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, não é o momento de ser herói e tomar ações precipitadas. “É preciso trabalhar com proteções”, disse. A recomendação é buscar títulos públicos e ativos indexados ao dólar. Quem se sente confortável com as oscilações da renda variável pode direcionar uma fatia pequena de seu capital a ações atreladas ao setor de commodities.

O Brasil vinha chamando atenção dos investidores internacionais até pelas altas taxas de juros. Para Correia, da Top Gain, “O dólar poderia cair a R$ 4,93, se não fosse a guerra. O mercado já tinha até precificado uma potencial eleição de Lula, mas as incertezas mudaram todo o cenário”, disse. Ele recomenda um portfólio diversificado, mantendo cerca de 30% em ações e o restante em renda fixa.

Outro campo considerado de risco é o de criptomoedas. Mesmo assim, as cotações vêm subindo desde o início das sanções à Rússia. Isso ocorre porque esses criptoativos vêm sendo usados para transferir doações para os dois lados do conflito. Segundo o CEO da emissora de criptomoedas Dynasty Global, Eduardo Carvalho, as sanções financeiras — que incluíram o possível desligamento dos bancos russos de suas contrapartes internacionais — mostrou que esses ativos são uma alternativa viável ao sistema financeiro. “A Ucrânia recebeu US$ 10 milhões em doações por meio de criptomoedas”, disse ele. “Mesmo que os russos bombardeiem o banco central ucraniano, será possível transacionar essas moedas enquanto houver uma conexão de internet ativa.” Segundo Carvalho, isso deverá ampliar estruturalmente a demanda por criptoativos, até como uma maneira de diversificação de riscos. “De certa forma, as criptomoedas valem mais do que o dinheiro tradicional, porque podem ser transacionadas em frações de segundo sem necessitar da aprovação de ninguém.”