O Esporte Clube Pinheiros conseguiu reverter o recente tombamento do salão de festas da instituição, de autoria do arquiteto modernista Gregori Warchavchik. A decisão de destombar não foi unânime dentro do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), tendo dois votos contrários e uma abstenção (de um total de nove conselheiros) em reunião realizada no dia 4 de junho – apenas três meses após ter decidido tombar o imóvel.

A decisão dividiu o Conpresp e, ainda, voltou a ser discutida em outra reunião após uma das conselheiras pedir para registrar manifestações contrárias ao destombamento em ata. O salão fica localizado na sede do clube, com a entrada voltada para a Avenida Faria Lima, em Pinheiros, na zona oeste da cidade de São Paulo. O projeto do espaço é de Gregori Warchavchik, arquiteto da Casa Modernista e de outros oito imóveis tombados em nível municipal na capital paulista.

Segundo os advogados do clube, o imóvel estava descaracterizado desde os anos 60, quando teve parte da estrutura demolida durante a desapropriação da Avenida Faria Lima. A manutenção do tombamento foi defendida pelo setor técnico do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), órgão municipal que faz os estudos dos imóveis em processo de tombamento. A opinião não foi, contudo, acompanhada pela diretora do DPH, Mariana Rolim.

“A questão que impõe é sobre a representatividade do salão de festas do Clube para o patrimônio cultural, arquitetônico e urbanístico. E aqui fica claro que tais valores, que poderiam ser um marco referencial, arquitetônico e urbanístico, na paisagem da região, foi perdido quando da alteração do projeto”, disse o relator do processo Ricardo Ferrari, representante da Secretaria Municipal da Justiça, conforme consta na ata da decisão.

“Em seu projeto original o edifício estabelecia um diálogo consigo mesmo e com a cidade, através não somente da estrutura de acesso, mas também da área verde existente ali, que criva um espaço de acolhimento. Tal relação com a cidade foi perdida, fazendo o clube voltar-se para as áreas internas, no que eram os fundos do salão”, completa Ferrari.

Um dos votos contrários ao destombamento foi da arquiteta Marianna Al Assal, representante do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e relatora do processo de tombamento do salão. Segundo consta em ata, ela ressaltou a “pertinência e relevância” do imóvel “como patrimônio não apenas para a comunidade ao qual pertence, mas também para a cidade de São Paulo”.

“Pode-se dizer que o edifício, projetado pelo renomado arquiteto Gregori Warchavchik, mantém inquestionavelmente sua importância histórica e contemporânea nas práticas cotidianas da comunidade do clube, presente nas memórias de seus sócios”, disse a conselheira. “O edifício ainda mantém forte relação com o tecido urbano circundante operando, por sua monumentalidade, como referência na paisagem e, do ponto de vista da memória, como referencial de espaços de sociabilidade da cidade”, completou.

Além de Marianna, o conselheiro Marcelo Manhães (representante da Ordem dos Advogados do Brasil) também foi contrário ao destombamento, enquanto o representante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) preferiu se abster.

Histórico

O processo foi à votação no Conpresp em 12 de março de 2018, quando teve cinco votos favoráveis ao tombamento e quatro contrários (Câmara Municipal de São Paulo, Secretaria Municipal da Justiça, Secretaria Municipal da Cultura e DPH).

Na data, advogados do clube já tinham sinalizado que iriam recorrer da decisão, enquanto a conselheira relatora havia ressaltado que o plano diretor do clube prevê a demolição do espaço para a construção de uma arena.

“O salão de festas projetado para o Clube Pinheiros em finais da década de 1950 insere-se inquestionavelmente em um contexto social de uma sociabilidade moderna que se inicia com as comemorações do quarto centenário da cidade e do qual fazem parte os diversos clubes de feições modernas já tombados ou em estudo de tombamento”, disse Marianna.