A cidade de Kourou, na Guiana Francesa, poderia ser apenas mais um daqueles paraísos perdidos em algum canto do planeta. Mas já faz tempo que o exotismo de suas paisagens deixou de ser o principal atrativo do lugarejo. É desse pequeno ponto no globo que são lançados pelo menos 15 satélites por ano. Kourou é, por exemplo, o quartel-general da européia Arianespace, gigante de US$ 1 bilhão, dona de 60% do mercado de transporte espacial comercial. Na quinta-feira 17, pouco depois das 20 horas (horário de Brasília e da Guiana Francesa), a Arianespace colocou em órbita o Brasilsat B4, construído pela americana Hughes Space & Communications para a Embratel. Servirá para a transmissão de sinais de TV e serviços de comunicação, especialmente na Banda C. Na bagagem está um investimento total de US$ 150 milhões entre desenvolvimento do projeto e a construção do equipamento. Desse total, cerca de US$ 60 milhões foram diretamente para os cofres da Arianespace.

A empresa tem 20 anos de mercado e atendeu até hoje mais de duas centenas de pedidos. Seus donos são 53 acionistas de 12 países europeus. Entre os sócios estão a Alcatel, a Aerospatiale Matra, a divisão aeroespacial da Volvo e 13 instituições financeiras do continente. Apesar do sotaque europeu, a Arianespace procura não concentrar esforços apenas nesse mercado. Metade dos pedidos feitos em duas décadas de existência foi de outros países que não os da Europa (EUA, Índia, Japão e Austrália, por exemplo). Mesmo a Arianespace sendo a dona do espaço, seus executivos sabem que não podem deixar de prospectar novos negócios. Na mira está um novo projeto de um consórcio europeu, batizado Galileu. Se tudo der certo, a agência poderá lançar seu primeiro satélite de monitoramento e localização dentro de sete a oito anos. Será como o americano GPS. A idéia ainda depende da aprovação do Congresso da Comunidade Européia e vai custar US$ 3,5 bilhões.

Além de estrear em segmentos novos como o de monitoramento, a Arianespace busca espaço em mercados alternativos. É exatamente aí que entra o Brasil. Patrick Rudloff, vice-presidente para novos negócios da empresa européia, não disfarça o entusiasmo com o potencial do País. ?O Brasil, sem dúvida, é o principal mercado na América Latina?, diz o executivo, que calcula uma demanda de pelo menos mais quatro satélites brasileiros para os próximos anos. Hoje, o País responde por 2% do faturamento de US$ 1 bilhão da companhia. Segundo Rudloff, tanto a Internet como as telecomunicações ainda têm muito o que crescer. Se a previsão estiver correta, a Arianespace poderá ter novos parceiros no Brasil, acabando assim a exclusividade com a Embratel. ?Estamos em negociação com a Telemar?, diz Rudloff. Vem aí mais um satélite verde-amarelo.