As cenas de um padre da TV Canção Nova acusando o PT de apoiar o aborto tem causado dores de cabeça na campanha de Agnelo Queiroz (PT), candidato ao governo do Distrito Federal. As imagens voltaram a ser exibidas pelo programa da sua adversária, Weslian Roriz (PSC), que tem procurado associar o petista à polêmica questão, tal como vem ocorrendo com a presidenciável Dilma Rousseff. Três pedidos de direito de resposta do PT foram negados hoje pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do DF.

“Se neste segundo turno, eu vou falar com clareza, o PT ganhar… Tô falando claro, pode me matar, pode me prender, pode fazer o que quiser, mas eu não posso me calar diante de um partido que está apoiando o aborto, que a igreja não aprova. Eu sou a favor da vida”, diz o padre José Augusto. A cena é seguida pela mensagem “Vote pela vida, vote Weslian Roriz”, pronunciada pelo locutor da candidata.

Weslian é apresentada no programa como uma mulher que “defende a vida no útero, até a idade adulta”. Em outro momento, uma moradora lamenta ter o sangue vermelho, cor do PT. “Se pudesse mudar, mudava para azul”, diz.

Para o coordenador de comunicação da campanha de Agnelo, Luís Costa Pinto, a tática é sinal de “desespero”. “Do ponto de vista eleitoral, é inócua. Estão baixando o nível da campanha, apelando para a baixaria, como tradicionalmente ocorre nas campanhas de (Joaquim) Roriz”, avaliou. “É uma estratégia de desespero, de quem não tem propostas.”

O coordenador da campanha de Weslian, Paulo Fona, rechaça as críticas. “Ninguém mentiu, fez injúria ou difamação. É um padre que tem uma opinião, compartilhada pela nossa candidata”, disse. “É bom que (eles) digam que é baixaria, porque demonstra como tratam uma questão tão séria como o aborto.”

Para blindar o candidato, o programa de Agnelo voltou a exibir imagens em que dois pastores da Assembleia de Deus e um padre elogiam o petista. A situação de Agnelo é considerada mais confortável que a de Dilma, que já disse publicamente ser favorável à descriminalização do aborto, embora tenha dotado discurso menos controverso desde o início da campanha.

“A posição do Agnelo é muito clara. Em nenhum momento houve dúvida em relação à opinião dele”, comentou o senador eleito Rodrigo Rollemberg (PSB). Assim como Rollemberg, o senador reeleito Cristovam Buarque (PDT) lamenta a estratégia de Weslian Roriz. “Eu fico triste de ver que o tema da cristandade, que é uma coisa tão pura e tão séria, esteja sendo rebaixada como mote eleitoral.”

Debate

No debate da TV Globo, exibido no último dia 28, Weslian provocou Agnelo questionando sua opinião sobre o assunto. “Eu gostaria de fazer uma pergunta pro senhor: o senhor foi do Partido Comunista, que não acredita em Deus, e agora está no PT, que expulsou quem é contra o aborto. O senhor é a favor ou contra o aborto?”, indagou ela, após ser questionada pelo petista sobre transporte público.

Acuado, Agnelo respondeu em outro bloco que era “cristão” e “contra o aborto”. Sem citar nomes, o ex-ministro criticou pessoas que “usam o nome de Deus para fazer todo tipo de maracutaia nessa cidade”.

Um novo debate entre os dois está marcado para amanhã, na TV Bandeirantes. A presença de Agnelo está confirmada, enquanto Weslian Roriz deverá decidir “em cima da hora” se vai ou não participar, informou a campanha da candidata. “Da primeira (vez), eu fui segura. Agora se eu for, vou tirar de letra”, disse Weslian na semana passada.

Feriado

O feriado prolongado em pleno segundo turno tornou-se uma das principais preocupações da campanha de Agnelo. Com o Dia do Servidor, em 28 de outubro, e Finados, no dia 2 de novembro, o risco de abstenção aumentou. Muitos brasilienses de classe média poderão fazer as malas e deixar a cidade, o que prejudicaria mais o petista que Weslian Roriz, avaliam petistas.

O programa do candidato, então, passou a exibir cenas de um jovem prestes a viajar, alertando a população sobre a importância de comparecer às urnas. “Viaje depois de votar”, diz. O objetivo, justifica, é impedir que o DF faça uma “viagem de volta ao passado”. A abstenção no Distrito Federal foi de 283.177 eleitores no primeiro turno, o que representa 15,44% do total do eleitorado. O índice ficou abaixo da média nacional, que foi de 18,12%.

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