A combinação entre a avalanche global provocada pela pandemia e a queda dos juros brasileiros para 2% ao ano, o menor patamar da história, fez muitos investidores decidirem sair da zona de conforto e arriscar. Rendendo menos que a inflação, investimentos como a poupança, o Tesouro Direto ou os Certificados de Depósito Bancário (CDB) deram lugar a aplicações internacionais. Os investimentos no exterior se consolidaram em 2020 e devem ganhar ainda mais espaço em 2021.

O reflexo dessa transformação foi sentido no número de investimentos ativos em carteira. Dados do Banco Central (BC) mostram um crescimento de 204% nos investimentos em ações internacionais entre janeiro e novembro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019. A alta não se limitou às ações. As aplicações em fundos de investimento cresceram 12,7%, passando de US$ 6,1 bilhões nos primeiros onze meses de 2019 para US$ 6,8 bilhões de janeiro a novembro de 2020.

Para os especialistas, essa migração de investimentos para o exterior demorou para acontecer. A analista de investimentos e relações com o mercado da plataforma de negociação de ativos TradeMap, Sandra Peres, disse acreditar que a justificativa é a falta de informações. “O conhecimento no Brasil está engatinhando. Só agora o investidor passou a entender que possui capacidade de proteger o capital investindo fora do País”, afirmou. A regulação e a burocracia também travavam o crescimento ao limitar a participação aos grandes investidores, com pelo menos R$ 1 milhão em recursos disponíveis.

Essas barreiras começaram a ser derrubadas com a atuação de corretoras e de plataformas de investimento, que facilitaram a interação entre o investidor brasileiro e os investimentos de fora. O especialista em fundos da XP Inc, Fabiano Cintra, avalia que essa atuação revolucionou o mercado. “Existia uma grande limitação de acesso. Abrir conta offshore era um processo caro e burocrático, assim como gerenciar o envio de remessas, e preparar as declarações de imposto de renda”. A facilidade de optar por investimentos externos atraiu muitos investidores, a maioria deles estreantes nesse mercado. Cintra não divulga os números, mas afirma que o total de fundos de investimento dedicados a eles passou de 26 em 2019 para 87 em 2020.

204% foi o crescimento das aplicações em ações internacionais entre janeiro e novembro de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019.

ESCOLHA No fim de outubro, a B3 tornou os Brazilian Depositary Receipts (BDR) acessíveis aos investidores de varejo. Os BDR são certificados que representam ações de empresas estrangeiras, e que são negociados na bolsa brasileira, em reais. Esses papéis se caracterizam por volatilidade elevada e liquidez reduzida, por isso eram restritos a investidores qualificados, com mais de R$ 1 milhão em capital para investir. Na avaliação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o fato de ter esse montante funciona como uma garantia de que o investidor sabe o que faz, ou que pode contratar os serviços de um especialista. Ao retirar essa barreira, a B3 permitiu que mais pessoas mergulhassem nessas águas potencialmente agitadas.

Outra alternativa são os Exchange Traded Funds (ETF). São fundos de investimento cujas cotas são negociadas como se fossem ações. Os ETF podem reproduzir índices de ações brasileiros e internacionais, índices de títulos de renda fixa, moedas e commodities. Oferecem vantagens como custo menor e mais diversificação nos investimentos. O dinâmico mercado imobiliário americano também se tornou acessível ao pequeno investidor brasileiro. Com a liberação, estão à disposição duas dezenas de fundos imobiliários americanos, os Real Estate Investment Trust (Reit), cujo retorno médio tem sido de 4% ao ano em dólares.

O RISCO COMPENSA A diversificação é defendida por especialistas. “A bolsa brasileira tem poucas empresas e muitos setores ainda nem são representados, mas eles podem ser acessados por meio de uma bolsa nos Estados Unidos, por exemplo”, afirmou o analista da plataforma de investimentos Warren, Igor Cavaca. Essa possibilidade tem atraído pequenos e médios investidores, principalmente para empresas de tecnologia, como as gigantes Apple e Amazon. Ter esses papéis em carteira reduz os riscos em geral, disse Sandra Peres, da TradeMap. “As bolsas dos Estados Unidos são as maiores do mundo, com liquidez alta, moeda forte e uma quantidade de ações estrondosa, então vale a pena diversificar para participar desse mercado”, afirmou.

Para os especialistas, a diversificação reduz significativamente a exposição exclusiva à economia instável do Brasil, mas é preciso estudar o país e a aplicação antes de se arriscar. A abertura em investimentos de risco deve ser considerada somente para investidores dispostos a enfrentar riscos diferentes dos das aplicações brasileiras, e que sejam pacientes para buscar retorno no médio e no longo prazo. Com isso em mente, é hora de carimbar o passaporte do seu dinheiro para garantir sua saúde financeira em 2021.

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