A agricultora Marinalva dos Santos Salgado, de 45 anos, teve a casa completamente soterrada pela lama que atingiu Bento Rodrigues. Ao fugir da inundação, levou apenas a roupa que tinha no corpo. Dois anos depois da tragédia, ela não conseguiu recuperar nenhum objeto pessoal. Ainda tem esperança de achar uma agenda deixada por seu marido três dias antes de morrer.

Nalva nos guia em silêncio pelas ruas do antigo vilarejo de Bento Rodrigues. Na localidade fantasma, monocromática, o único barulho que se ouve é o dos passos. “Aqui era o bar do meu pai”, ela aponta para as ruínas de uma construção de esquina. “Esta casa do lado também era do meu pai, pra aluguel. Atrás desse tapume é a igreja onde fui batizada, onde batizei meus filhos e netos.”

Assim como Nalva, o casal Luzia Queiroz, de 52 anos, Caetano da Silva, de 33, volta a Paracatu de Baixo sempre que possível. O local, onde moravam, também foi destruído pela lama. “A gente continua vindo aqui, mesmo sem água, luz, esgoto, sem nada”, conta Luzia. “Porque isso aqui é nosso. A terra é nossa.”

Resgate da história

A lama que soterrou vilarejos, envenenou o Rio Doce e chegou até o Oceano Atlântico também destruiu parte da história de Minas Gerais. Três igrejas construídas nos séculos 18 e 19 em Mariana e Barra Longa foram invadidas pelo tsunami de rejeitos. Muitas imagens sacras se perderam.

Para tentar recuperar parte desse patrimônio foi criada uma reserva técnica em Mariana, que já recebeu 2.134 peças ou fragmentos de peças dos acervos das igrejas, encontrados nos vilarejos e também ao longo do curso do Rio Doce.

As peças estão sendo limpas e recuperadas e serão devolvidas no futuro às comunidades. Mas o mais difícil, conta a restauraora responsável pelo projeto, Mara Fantini, de 58 anos, é recuperar o patrimônio imaterial das localidades atingidas. “Tudo o que encontramos dentro das igrejas trazemos para cá. Não temos como julgar o que é importante para eles.”

Uma garrafa pet cheia de água foi um dos itens levados pelos especialistas para a reserva técnica. “Quando os moradores viram, se emocionaram muito. Era a água benta que o padre tinha deixado com a comunidade dias antes da tragédia.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.