Um fóssil estranho que parece um pouco com uma folha gigante, ou com uma impressão digital do tamanho de uma mesa de centro, intrigou os cientistas por décadas.

Milhares desses fósseis foram encontrados nas últimas sete décadas, revelando que viviam no fundo do oceano, sem boca, intestinos ou ânus, há meio bilhão de anos.

Era uma planta musgosa? Uma ameba gigante unicelular? Um experimento falhado da evolução? Ou o animal mais antigo da Terra?

Depois de escavar um desses fósseis, com matéria orgânica preservada, em um penhasco na Rússia e analisar seu conteúdo, os pesquisadores descobriram moléculas de colesterol, um tipo de gordura.

Isso confirma que a criatura, conhecida como Dickinsonia, é o animal mais antigo da Terra, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira na revista Science.

“Os cientistas brigam há mais de 75 anos” sobre a natureza desses “fósseis bizarros”, disse o professor associado Jochen Brocks, da Escola de Pesquisa de Ciências da Terra da Universidade Nacional da Austrália.

“A gordura fóssil agora confirma o Dickinsonia como o mais antigo fóssil de animal conhecido, resolvendo um mistério de décadas que tem sido o Santo Graal da paleontologia.”

O Dickinsonia continha segmentos semelhantes a costelas do mesmo comprimento de seu corpo oval, que vinha em uma variedade de tamanhos e podia chegar a 1,4 metro.

A análise mostrou que esses animais eram abundantes 558 milhões de anos atrás, milhões de anos antes do que se pensava, de acordo com Brocks.

A criatura fazia parte do conjunto de seres Biota Ediacarana, que viveu na Terra durante um tempo em que as bactérias reinavam, há entre 542 e 635 milhões de anos.

O Período Ediacarano foi cerca de 20 milhões de anos antes do surgimento da vida animal moderna – um período conhecido como explosão cambriana.

“A questão tem sido, isso é real? É um evento que aconteceu na história da Terra? Ou simplesmente não encontramos os fósseis mais antigos?” – disse à AFP David Gold, geobiólogo e professor assistente da Universidade da Califórnia.

“Este artigo é outra boa linha de evidência para apoiar a ideia de que isso é de fato um animal, e que os animais são muito mais velhos que o Cambriano”, acrescentou.

O Dickinsonia poderia ser um ancestral de “muitas formas de vida animal hoje”, incluindo vermes e insetos, acrescentou Gold, que não participou do estudo.