A oposição trabalhista é favorita nas pesquisas para as eleições de sábado (18) na Austrália, onde cresce o ceticismo em relação aos partidos tradicionais.

Após seis anos de governo conservador, o mais provável é uma alternância de poder, apesar da redução da vantagem dos trabalhistas nas pesquisas durante a campanha.

O líder trabalhista Bill Shorten tem grandes chances de virar o sexto primeiro-ministro australiano em uma década.

A campanha registrou vários momentos de violência, com candidatos agredidos e outros que desistiram após ataques racistas e sexistas nas redes sociais.

O atual primeiro-ministro, Scott Morrison, que assumiu o poder após um “golpe” dentro do Partido Liberal, ficou isolado para defender seu balanço de governo depois que vários ministros se recusaram a participar da campanha.

Uma pesquisa do instituto Essential Research, publicada no domingo, aponta intenções de voto de 51% para a centro esquerda, e 49%, para a coalizão liberal-nacionalista.

A projeção de cadeiras no Parlamento aponta, porém, uma maioria suficiente aos trabalhistas para formar o governo.

Ainda assim, uma surpresa não é impossível, já que a Austrália é mais um país a registrar o aumento do ceticismo em relação aos partidos tradicionais, após a queda do poder aquisitivo e o aumento da desigualdade.

O confronto tradicional entre centro esquerda e centro direita pode ser afetado pelo avanço dos candidatos de extrema direita e outros antissistema.

Entre os candidatos extremistas aparece Clive Palmer, um milionário que lembra o americano Donald Trump com seu slogan “Austrália em primeiro lugar”. Ele pode entrar no Senado, graças a uma campanha cara que saturou o espaço público.

Estes candidatos podem ter um papel central, no caso de equilíbrio de forças entre liberais e trabalhistas.

Morrison, 51 anos, reduziu a desvantagem nas pesquisas com ataques incessantes ao programa econômico trabalhista que, segundo ele, vai provocar o aumento dos aluguéis e o corte de milhares de empregos.

“Trata-se de escolher um primeiro-ministro”, declarou Morrison, beneficiado pelo apoio dos meios de comunicação do magnata Rupert Murdoch.

Em caso de derrota, Morrison será o primeiro-ministro que ficou menos tempo no cargo.

– “Falta de visão” sobre o clima –

Shorten promete aumentar os gastos públicos em vários setores, em particular na luta contra o câncer.

Sua eleição pode depender dos resultados em Queensland, ou em Victoria, estados em que o clima é um dos grandes temas de campanha.

Nos bairros residenciais de Melbourne, a cidade cosmopolita, ou no Outback, as zonas áridas do centro do país, o discurso cético a respeito do clima não convence.

“As dúvidas da coalizão sobre a mudança climática são percebidas pelos jovens como o símbolo de sua falta de visão”, explica à AFP Mark Kenny, professor da Universidade Nacional da Austrália.

O país registrou em 2019 inundações e temperaturas elevadas, além de vários incêndios florestais. A recusa de Morrison em abandonar a energia baseada no carvão provoca rejeição.

O vencedor terá de lidar com a desaceleração econômica e determinar qual será o lugar da Austrália no mundo.

Os dois candidatos reafirmaram o apoio à aliança com os Estados Unidos, apesar dos inconvenientes para a Austrália da política unilateral de Trump.

E ambos não conseguiram falar claramente sobre qual será a política a respeito da China, que é, ao mesmo tempo, um sócio econômico muito importante e uma potência que questiona cada vez mais a posição geopolítica australiana.