Os estoques de veículos nos pátios de fábricas e concessionárias voltaram a subir, sendo suficientes agora para 25 dias de venda. Março terminou com 125,5 mil veículos em estoque, 4,4 mil a mais do que o número apurado no fim de fevereiro, quando os estoques somavam 121,1 mil unidades, o que, pelo ritmo atual do mercado, cobriam 24 dias de venda. O volume é o maior das apresentações feitas pela Anfavea, a entidade que representa as montadoras, nos últimos 17 meses.

De agosto para cá, os estoques deixaram a mínima histórica – 76,4 mil unidades – e tiveram um acréscimo de 49,1 mil veículos, voltando a superar níveis de antes da crise dos componentes eletrônicos, cujo aperto de oferta é o principal responsável por atrasos de produção em montadoras há mais de um ano.

Em novembro e dezembro de 2020, a indústria contou, respectivamente, 119,4 mil e 96,8 mil veículos em estoque, menos, portanto do que o volume atual.

‘Compasso de espera’

Nesta sexta-feira, durante a apresentação dos resultados do mês passado, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, comentou que a indefinição sobre o tamanho do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) colocou o consumidor em “compasso de espera”. O governo reduziu o IPI em 25% no fim de fevereiro – no caso dos automóveis, 18,5% -, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, já anunciou que o corte subirá para 33%, isso leva o consumidor, na avaliação da indústria, a esperar para comprar carro com imposto mais baixo.

Após apontar a diferença entre as taxas de juros cobradas dos consumidores que compram automóveis no Brasil (27% ao ano) e nos Estados Unidos (5% ao ano), Moraes disse que há preocupação sobre os impactos do custo mais alto do financiamento a partir do segundo semestre, quando a indústria espera ter maior disponibilidade de peças para colocar mais veículos no mercado.

Mais uma vez, ele pediu ao Banco Central (BC) cuidado na calibragem dos juros para que o esforço de controle da inflação não comprometa o crescimento econômico.

Enfraquecimento da demanda

O presidente da Anfavea evitou, no entanto, atribuir o maior acúmulo de estoques, algo ainda não percebido como um problema, a um enfraquecimento da demanda. “Ainda é cedo para fazer esta afirmação”, disse Moraes, ao responder se o arrefecimento do consumo explicaria mais do que a falta de produtos o fraco resultado do primeiro trimestre, período em que as vendas de veículos foram as mais baixas dos últimos 17 anos.

“Temos ainda processos de produção que não estão normais, temos anúncios como o do IPI – vai ter ou não vai ter? – que podem ter provocado uma postergação em uma ou duas semanas. É muito cedo ainda, 125 mil unidades em estoque ainda é muito pouco para se considerar que temos um problema de estoque”, acrescentou Moraes.

Ele pontuou que existe uma demanda reprimida das locadoras, que precisam de pelo menos 600 mil veículos para renovar a frota, mas ainda enfrentam dificuldades para receber carros em função dos gargalos de produção nas fábricas de automóveis.

Projeções

Ainda que, desde janeiro, a média mensal de produção (165 mil veículos) tenha ficado em 30 mil unidades abaixo da previsão da entidade ao período, a Anfavea manteve as previsões para o ano, incluindo o prognóstico de 2,46 milhões de veículos montados no Brasil, com alta de 9,4% frente a 2021.

Segundo Moraes, os números até aqui estão em linha com a premissa de que as restrições no fornecimento de componentes eletrônicos só devem ser reduzidas no segundo semestre.